As modas e tendências influenciam seguramente as pessoas em relação a certas modificações corporais. Pena é que não o façam de uma forma correta e saudável.

Artigo da responsabilidade da Profª Dra. Paula Freitas. Endocrinologista, presidente da Sociedade de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM)

 

A maneira como se preconiza o “corpo ideal”, o “corpo perfeito” ou padrões de beleza ao longo da vida tem mudado e certamente mudará ao longo da história.

A mudança do corpo na infância, na adolescência, na vida adulta e durante o envelhecimento são uma realidade. Estes aspetos cronológicos estão intimamente associados a fenómenos biológicos e a sua perceção ou “vivência” a aspetos psicológicos e sociais.

De uma forma científica e biológica, conhecemos a composição corporal saudável (massa magra, massa gorda, massa óssea) ao longo da vida e os desvios – abaixo ou acima dos limites da normalidade.

A localização da gordura também se altera ao longo da vida. Por exemplo, as mulheres jovens têm uma maior deposição da gordura a nível das coxas e da região glútea (ginoide, tipo “pera”). Após a menopausa, a gordura deposita-se mais a nível abdominal (androide, tipo “maçã”), mudança que está relacionada com a diminuição dos estrogénios, sendo este último tipo de distribuição de gordura aquele que está associado a um maior risco de doenças cardiovasculares. Os homens acumulam mais a gordura a nível abdominal, o que está relacionado com os androgénios.

As modas seriam muito importantes e úteis se orientassem as pessoas para irem ao encontro de uma composição corporal saudável, de acordo com os conhecimentos científicos desse tempo e na fase da vida em que a pessoa se encontra. Infelizmente, sabemos que essa não é a realidade, já que as modas têm muito de “folclore” e pouco de evidência científica.

O passado é importante para não se repetirem alguns erros, mas na atualidade existem temas que é moral e eticamente mandatório abordar.

EFEITOS ADVERSOS A TER EM CONTA

A minha escolha recai sobre a toma de esteroides androgénicos anabólicos, comummente conhecidos como esteroides anabólicos. Estes são um grupo grande de moléculas que inclui androgénios, com a testosterona, assim como os seus derivados sintéticos (decanoato de nandrolona, metandienona e metenolol). O respetivo uso está associado à capacidade de aumentar a massa muscular e são usados quer por atletas, para aumentar a sua performance, quer com propósitos estéticos, para atingir uma determinada composição corporal, com aumento da massa muscular. É o caso dos “bodybuilders”. Obviamente, são proibidos pela Agência Mundial Anti-doping.

As pessoas que usam esteroides anabólicos a fim de obterem uma determinada composição corporal devem estar bem informadas sobre os seus perigos.

Os esteroides androgénicos anabolizantes podem originar vários efeitos adversos. A saber:

  • A nível cerebral e do comportamento: adição, agressividade, depressão e até psicose;
  • Consequências cardiovasculares: hipertensão, hipertrofia ventricular esquerda, efeitos pró-aterogénicos, trombose;
  • Hematológicos: aumento do colesterol;
  • A nível do fígado: hepatite, colestase e cancro do fígado;
  • Musculoesqueléticos: roturas musculares, musculotendinoses;
  • No sistema urinário: insuficiência renal aguda, glomerulonefrite e tumor de Wilms, entre muitos outros.

Nos homens, pode ocorrer ginecomastia, ou seja, aumento da glândula mamária, impotência, hipertrofia prostática, atrofia testicular e mesmo cancro da próstata. Nas mulheres, pode surgir atrofia mamária, aumento do clitóris, irregularidades menstruais e atrofia do útero.

Leia o artigo completo na edição de abril 2025 (nº 359)