As arritmias cardíacas são comuns e têm impacto na qualidade de vida, na morbilidade e também na mortalidade. Resultam em idas frequentes à urgência hospitalar, por vezes com necessidade de internamento, e podem causar insuficiência cardíaca, desmaios e até morte súbita. Com a evolução tecnológica das últimas décadas tem sido possível aumentar a capacidade de diagnosticar e tratar arritmias com maior eficácia.

Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Mário Oliveira. Coordenador da Unidade de Arritmologia e Síncope do Hospital CUF Tejo

 

Portugal tem vivido uma experiência bastante positiva nesta área da Medicina, sendo hoje possível o acesso a especialistas em Arritmologia em todo o país. O número de intervenções tem vindo a aumentar de forma consistente, quer no que respeita a ablações (tratamento por cateter com aplicação de energia controlada para eliminação de arritmias), quer na implantação de dispositivos eletrónicos capazes de tratar com sucesso as falhas do coração, algumas formas de insuficiência cardíaca crónica e mesmo prevenir a morte súbita em doentes de alto risco.

PORTUGAL NA LINHA DA FRENTE

No capítulo dos pacemakers, a taxa de implantações nacional ultrapassa os 1000 por milhão de habitantes (cerca de 12.000 aparelhos por ano), colocando o nosso país na linha da frente europeia relativamente ao número de unidades implantadas.

A tecnologia é cada vez mais avançada e adaptada às diferentes anomalias do ritmo cardíaco, com possibilidade de implantar pacemakers de pequena dimensão, sem fios, dentro do coração e de permitir a realização de ressonâncias magnéticas nas diferentes áreas do corpo.

A experiência recente com estimulação do sistema de condução elétrica do coração (pacing fisiológico) tem sido muito positiva, dando acesso a uma modalidade capaz de preservar o desempenho cardíaco adequado. Esta nova opção de pacing pode também ser usada para ressincronização cardíaca, o que nos deixa hoje com mais uma alternativa para tratamento de doentes com insuficiência cardíaca crónica.

VIGILÂNCIA À DISTÂNCIA

Também na área da insuficiência cardíaca grave tem sido possível aumentar a capacidade de tratamento com recurso a outro tipo de inovação, como aparelhos que interferem de forma positiva no desempenho cardíaco, sintomatologia e qualidade de vida – o sistema de ativação do barorreflexo ou o dispositivo de modulação da contratilidade cardíaca –, mas também o que designamos de sistemas de assistência ventricular, implantados em cirurgia cardíaca, usados em pessoas com disfunção cardíaca grave refratária, sem condições para transplante cardíaco, que permitem permanecer em ambulatório, embora com regular vigilância hospitalar.

Relativamente aos cardioversores-desfibrilhadores implantáveis, estão hoje disponíveis em formato totalmente subcutâneo (sem fios intravasculares) e, mais recentemente, também já implantados em Portugal, num novo modelo extra-vascular, evitando a colocação de elétrodos dentro do coração, mas possibilitando pacing com estimulação extra-cardíaca.

Todos estes dispositivos eletrónicos, bem como o pequeníssimo registador de eventos implantável (com monitorização do ritmo cardíaco e bateria para 4 anos) e o novo sistema de avaliação contínua da pressão na artéria pulmonar, permitem vigilância à distância em programas de monitorização remota. A equipa que acompanha o doente, usando sistemas de transmissão de dados, tem acesso a informação sobre o funcionamento dos aparelhos e à evolução de alguns parâmetros fisiológicos do doente, o que se sabe hoje que contribui para melhorar os resultados clínicos a longo prazo.

MENOS COMPLICAÇÕES

No que concerne à ablação por cateter de diferentes arritmias tem-se verificado uma evolução tecnológica muito relevante, envolvendo maior diferenciação nas plataformas computorizadas de mapeamento tridimensional dos circuitos das arritmias, o recurso a cateteres de alta-definição, a algoritmos que são verdadeiros auxiliares de interpretação dos mecanismos das arritmias e a integração de imagem (com tomografia computorizada ou ressonância magnética cardíacas).

Além disso, é hoje possível o mapeamento não invasivo da origem e circuito das arritmias, com recurso a coletes que contêm centenas de pequenos sensores capazes de registar atividade elétrica do coração em modelos tridimensionais.

A combinação destas várias etapas de inovação permite hoje uma visão mais simplificada das arritmias a tratar, obtendo-se maior sucesso, com menos complicações.

Leia o dossier completo na edição de fevereiro 2025 (nº 357)