Sabe-se que 1 em cada 10 adultos sofre de doença renal e que, a nível pediátrico, os valores estão a crescer. É aqui que a especialidade de Fisioterapia Uropediátrica pode dar o seu contributo, também na prevenção da doença renal na infância.

Artigo da responsabilidade da fisioterapeuta uropediátrica Raquel Saraiva

Em Portugal, estima-se que mais de 20 mil doentes necessitem de diálise ou transplante renal e que mundialmente a doença crónica renal afete aproximadamente 850 milhões de pessoas, prevendo-se, na próxima década, um aumento de 10% para 17 por cento .

Fala-se muito sobre a importância da fisioterapia pélvica, mas quase sempre direcionada para a mulher e para o homem. É raro pensarmos que as crianças também podem necessitar desta intervenção.

Os problemas urinários na infância são muito frequentes (alta prevalência das disfunções do trato urinário inferior), sendo que os principais problemas que a criança pode apresentar são a urgência para fazer chichi, podendo estar associada ou não às perdas (incontinência), enurese noturna (chichi na cama), bexiga hipoativa  (bexiga preguiçosa) ou retenção do chichi muita ligado aos casos de infeção urinária.

Também a obstipação infantil está diretamente relacionada com o mau funcionamento pélvico e do sistema urinário, podendo, em muitos casos, levar a aumentos de pressão na bexiga, dilatações e refluxo.

O que a maioria não sabe é que todas elas, inclusive as infeções urinárias de repetição na infância, podem dar origem a lesões do trato urinário superior, pelo que a evolução é de forma silenciosa e os rins irão ser os mais atingidos, podendo já não haver recuperação.

Assim, o desconhecimento dos pais sobre os problemas urinários que podem ocorrer na infância e onde obter um tratamento especializado faz com que o dia a dia da família fique difícil, podendo acarretar sérios problemas de saúde já no trato urinário superior, bem como problemas psicológicos à criança.

A Fisioterapia Uropediátrica é uma grande aliada do tratamento médico na Uropediatria.  Dispomos de recursos que auxiliam no tratamento dessas disfunções, tais como Uroterapia (terapia comportamental  para melhorar os hábitos urinários e evacuatórios), Cinesioterapia (exercícios terapêuticos específicos), Terapias manuais,  Eletroestimulação para neuromodulação do funcionamento vesical e  Biofeedback  não invasivo electromiográfico.

A família faz parte integrante do tratamento. É fundamental que percebam o processo e que, muitas vezes, é necessário continuar o tratamento em casa para surgirem os resultados.

Também muitas vezes há necessidade de ir às escolas e falar com as educadoras ou cuidadores. É fundamental que, quando já existem lesões renais, que não impeçam as crianças de ir à casa de banho e que se mantenham as rotinas para se poder prevenir o agravamento da situação.

Como mãe de um menino insuficiente renal crónico transplantado, sei bem todas as dificuldades que tenho em gerir estas situações.

O lidar diariamente com a doença do meu filho abriu-me portas para esta especialidade da Fisioterapia, que ainda é desconhecida de muitos e está a dar os primeiros passos em Portugal.

Os problemas de chichis e de cocós têm muito mais que se lhes diga do que simplesmente retirar uma fralda. É aí que a Fisioterapia Uropediátrica pode intervir, cuidando da saúde renal das crianças.