O fígado é um verdadeiro herói do nosso organismo: metaboliza substâncias, armazena nutrientes, ajuda na digestão dos alimentos e participa na eliminação de toxinas. Mas, quando acumula gordura em excesso – condição conhecida como ou “fígado gordo” – as suas funções podem ficar comprometidas.

Artigo da responsabilidade da Dra. Joana Nunes. Gastrenterologista e hepatologista, Hospital da Luz Lisboa.

 

A esteatose hepática é cada vez mais comum e está diretamente relacionada a hábitos alimentares deficientes, sedentarismo e consumo de álcool.

Existem dois tipos principais de esteatose hepática:

  • Esteatose hepática associada a disfunção metabólica: relacionada com fatores metabólicos como obesidade, diabetes mellitus tipo 2, colesterol elevado e estilo de vida sedentário.
  • Esteatose hepática alcoólica: associada a consumo excessivo e regular de álcool.

Apesar de, muitas vezes, ser desvalorizada por doentes e até por profissionais de saúde, a esteatose hepática é extremamente frequente e pode trazer consequências graves.

UMA DOENÇA CADA VEZ MAIS PREVALENTE

O consumo excessivo de álcool afeta 19% dos adultos na Europa e 23,5% nos EUA, com destaque para o padrão de binge drinking (grande ingestão de álcool numa única ocasião), mais comum entre homens e jovens.

Já a esteatose hepática associada a disfunção metabólica atinge cerca de 25% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde. Este número está a aumentar, de forma preocupante, também entre crianças e adolescentes.

Tendo em conta que o consumo de álcool e os fatores metabólicos coexistem frequentemente, o risco de progressão para doença hepática grave é elevado.

SILENCIOSA, MAS PERIGOSA

Nas fases iniciais, a esteatose é assintomática e é descoberta por acaso em exames de rotina, como ecografia abdominal, ou análises laboratoriais que mostram alterações nas enzimas do fígado.

Apesar de silenciosa, a esteatose hepática pode evoluir para quadros graves como esteatohepatite, cirrose e até cancro do fígado, se não for tratada adequadamente.

Além disso, a esteatose hepática não é apenas um problema isolado do fígado. Vários estudos científicos mostram que está associada a um risco significativamente maior de enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral e diabetes mellitus tipo 2. Pessoas com esteatose hepática têm o dobro do risco de desenvolver diabetes em comparação com a população em geral. Por outras palavras, a esteatose hepática é um alerta para a existência de um desequilíbrio entre o que se consome e o que se gasta.

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?

O diagnóstico é habitualmente realizado por exames de imagem, como ecografia abdominal, tomografia computorizada (TC) ou ressonância magnética.
Análises de sangue também ajudam a avaliar as enzimas hepáticas (AST, ALT, GGT) e o funcionamento geral do fígado.

A BOA NOTÍCIA: A CURA ESTÁ AO ALCANCE DA MAIORIA!

A esteatose, especialmente nas fases iniciais, é reversível. O tratamento passa, acima de tudo, por mudanças no estilo de vida. Entre as principais recomendações estão:

  • Adotar uma alimentação equilibrada e variada, rica em vegetais, frutas, cereais integrais e proteínas magras;
  • Reduzir o consumo de açúcar, refrigerantes e produtos industrializados;
  • Praticar atividade física regularmente – o importante é mexer-se;
  • Perder peso de forma gradual e sustentável;
  • Evitar o álcool, mesmo que em pequenas quantidades;
  • Controlar doenças associadas, como diabetes mellitus, colesterol alto e hipertensão arterial.

Em alguns casos, o médico pode indicar medicamentos para tratar fatores de risco, como estatinas (colesterol) ou antidiabéticos orais.

IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO MÉDICO

Na tentativa de resolver rapidamente o problema, algumas pessoas recorrem a produtos que prometem “desintoxicar o fígado”. É importante salientar que o fígado não precisa de detox milagroso e que muitas dessas substâncias podem até ser tóxicas.
O tratamento deve ser encarado não como uma fase, mas como uma mudança definitiva para uma vida mais equilibrada e saudável, sendo o acompanhamento médico e nutricional fundamental para garantir um tratamento seguro, eficaz e individualizado.

CUIDE DO SEU FÍGADO TODOS OS DIAS

Cuidar do fígado é cuidar da nossa saúde como um todo. E nunca é tarde para começar! Pequenas mudanças fazem uma grande diferença: subir escadas em vez de utilizar o elevador, iniciar a prática de um desporto, escolher melhor os alimentos.

Não espere pelos sintomas: fale com o seu médico, especialmente se tiver fatores de risco. A prevenção é o melhor caminho para uma vida longa, ativa e saudável.

Fatores de risco

São vários os fatores que contribuem para o desenvolvimento da esteatose hepática. Os principais incluem:

  • Alimentação rica em gorduras saturadas, açúcares e alimentos ultraprocessados;
  • Sedentarismo;
  • Excesso de peso e obesidade;
  • Diabetes tipo 2;
  • Hipertensão arterial;
  • Colesterol e triglicéridos elevados;
  • Consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

Saiba mais sobre saúde digestiva na Edição Especial SAÚDE E BEM-ESTAR – Conselhos Médicos nº43 – SAÚDE DIGESTIVA, integralmente redigida com o apoio científico da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia