A síndrome dos ovários poliquísticos (SOP) é uma doença que afeta 10 a 15% das mulheres e pode provocar alterações do ciclo menstrual, múltiplos folículos nos ovários e dificuldade em engravidar. No mês de consciencialização para esta doença, que se assinala em setembro, a Dra. Catarina Godinho, ginecologista e especialista em Medicina da Reprodução, alerta para a importância do diagnóstico precoce e fala sobre os falsos mitos relacionados com esta condição.

A SOP é mais comum nas mulheres com excesso de peso ou obesidade. Apesar de a doença não ter cura, pode ser tratada e controlada. A especialista do IVI Lisboa explica que esta síndrome é o resultado de “um conjunto de sinais e sintomas causados por um desequilíbrio hormonal dos ovários, que pode ser ligeiro a grave, causando, por exemplo, irregularidade dos ciclos menstruais, crescimento de pelos em zonas mais comuns nos homens, aparecimento de acne entre outras alterações hormonais”.

Os sinais e sintomas da síndrome desenvolvem-se, geralmente, na primeira menstruação, durante a puberdade, e podem variar de mulher para mulher. No entanto, há situações em que esta síndrome se manifesta mais tarde, em resposta a um aumento de peso significativo.

O diagnóstico precoce é fundamental para controlar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e identificar eventuais problemas de fertilidade. As mulheres com SOP devem falar previamente com os seus médicos ginecologistas antes de tentarem engravidar. Embora tenham um risco aumentado para outras doenças, como a hipertensão arterial ou a diabetes, estas mulheres podem ter uma gravidez tão bem-sucedida como qualquer outra mulher sem doenças prévias. Contudo, “devem ser bem acompanhadas e seguir as recomendações médicas”, avisa a Dra. Catarina Godinho.

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO

O diagnóstico depende de critérios médicos específicos que incluem sintomas, ecografia e análises. Segundo a Dra. Catarina Godinho, “para o diagnóstico devem ser tidos em conta os antecedentes pessoais relevantes como diabetes, colesterol alto, hipertensão arterial, aumento de peso e obesidade; dever ser feita uma avaliação dos níveis hormonais de androgénios (hormonas masculinas) e resistência à insulina”. Adicionalmente é feita uma ecografia ginecológica transvaginal para avaliar a dimensão e as características dos ovários.

Como costumam ser muitas as dúvidas que surgem após o diagnóstico – como por exemplo a possibilidade de engravidar ou o uso ou não de contracetivos – a Dra. Catarina Godinho fala-lhe a seguir dos falsos mitos sobre SOP para que possa compreender melhor a síndrome e quais as suas implicações.

Síndrome dos ovários poliquísticos é o mesmo que quistos nos ovários?

Falso! As mulheres com SOP têm múltiplos folículos de pequeno tamanho na periferia dos ovários. É este número anormal de folículos que levam ao desequilíbrio hormonal. Os quistos nos ovários são bolsas de líquido que se desenvolvem nos ovários em cada período menstrual. São comuns e geralmente são benignos e não causam dor.

Uma mulher com síndrome dos ovários poliquísticos tem tumores nos ovários?

Falso! O nome SOP provém da sua descrição, há quase 100 anos, e deve-se ao aspeto que apresentavam os ovários com múltiplos folículos que eram um pouco maiores do que o habitual. Mas não são quistos, nem tumores!

É uma doença com origem nos ovários?

Falso! É uma doença metabólica que também afeta os ovários através da falta de ovulação e, consequentemente, pode impactar a fertilidade. Mas a sua origem é uma alteração geral do metabolismo, com um papel muito importante na resistência à ação da insulina.

A mulher com SOP é estéril?

Não! As mulheres com SOP podem demorar um pouco mais para engravidar porque normalmente não costumam ovular, mas, em certas ocasiões, ovulam e é nesses momentos que poderão engravidar. A medicina de reprodução, através de tratamentos simples, é um bom aliado para reduzir este tempo de espera.

Não há tratamentos para a SOP.

Falso! Embora não exista um tratamento que possa solucionar todos os sintomas da SOP, é possível tomar medidas para combater esses sintomas, como por exemplo, a perda de peso de mulheres nos casos em que é preciso perder alguns quilos. Além disso, existem também tratamentos específicos para cada um dos sintomas que a mulher pode apresentar, aliviando-os, o que permite aumentar a autoestima e a qualidade de vida.

COMO É O TRATAMENTO?

O primeiro passo é perder peso, caso exista excesso ou obesidade, independentemente de a maternidade estar nos seus planos. Se não se pretender engravidar é recomendado o uso da pílula anticoncecional para que os ciclos menstruais sejam mais regulares. Se houver resistência à insulina associada a esta síndrome “é importante controlar o nível de açúcar no sangue com uma dieta específica e ou com alguma medicação, uma vez que este desequilíbrio pode originar mais tarde a diabetes”, explica a Dra. Catarina Godinho.

Para as mulheres com SOP que pretendam ser mães pode ser necessário a indução da ovulação recorrendo a alguns medicamentos que estimulem o crescimento do folículo até à ovulação e que requerem controlo ecográfico.  Outra solução para aumentar a probabilidade da gravidez é a fertilização in vitro.

O tratamento desta doença deve concentrar-se na educação, nos diferentes aspetos psicológicos e numa mudança significativa nos hábitos de vida em combinação com a terapia farmacológica, se necessário. A estratégia aplicada na maioria das mulheres com SOP é uma modificação importante do estilo de vida baseada numa abordagem multidisciplinar, que também pode ajudar a reduzir a ocorrência de complicações a longo prazo.