No atual estado de pandemia, muitos casais interrogam-se se será este o momento oportuno para terem um filho. Quais os riscos para a gestante e para o bebé? Eis algumas respostas que se desejam tranquilizadoras.
Artigo da responsabilidade da Dra. Catarina Godinho, médica ginecologista-obstetra do IVI e especialista em Medicina da Reprodução
A vacina para o novo coronavírus representa um virar de página na história desta pandemia, mas não o tão esperado regresso à normalidade. Este levará mais algum tempo e obriga-nos a continuar com as nossas rotinas e a uma adaptação contínua às circunstâncias, sem nunca esquecer as regras de segurança instituídas.
A gravidez, não deve, por isso, ser adiada, seja ela espontânea ou através de procriação medicamente assistida. Até porque, para as mulheres, o tempo e a idade são fatores decisivos para a tão desejada gravidez.
Tranquilidade e segurança
A mensagem que devemos passar para as mulheres e para os casais é de tranquilidade e segurança. Até ao momento, nenhuma Sociedade Científica desaconselhou a gravidez devido à pandemia. Os estudos internacionais e interdisciplinares já realizados confirmam que a gravidez não é um fator de risco para a doença, mas sim a idade e a existência prévia de doenças cardiovasculares, respiratórias ou renais, diabetes e obesidade, entre outras.
As mulheres grávidas poderão passar pela doença de forma leve ou assintomática, como acontece com a maioria da população. Também não está demonstrado cientificamente que a infeção por SARS-CoV-2 durante a gravidez esteja associada a uma maior incidência de problemas médicos ou obstétricos.
No entanto, os fatores de risco atrás referidos durante a gravidez, como a hipertensão arterial crónica, obesidade e diabetes gestacional, poderão agravar-se num eventual quadro de infeção por COVID-19. Com ou sem infeção, com estas condições associadas, a grávida será considerada de risco e terá todo o acompanhamento previsto no protocolo médico instituído para estes casos.
Vírus é transmissível ao feto?
Quanto à possibilidade de as mulheres grávidas com COVID-19 poderem transmitir o vírus ao feto ou ao recém-nascido é uma situação muito rara – existem dois casos descritos, de acordo com a Direção-Geral da Saúde – mas não está devidamente clarificada a forma de transmissão. Ou seja, até ao momento, tudo indica que o vírus se propaga, sobretudo, por contacto próximo de gotículas respiratórias. No caso dos fetos e dos recém-nascidos, estão por investigar outras vias de transmissão vertical, antes, durante e após o parto. Até ao momento, o vírus da COVID-19 ainda não foi encontrado no fluído vaginal, no sangue do cordão umbilical ou no leite materno.
O feto está protegido pela barreira feto-placentária contra inúmeras infeções. Alguns vírus, como a rubéola ou a varicela, podem atravessar esta barreira e provocar complicações congénitas no bebé. No caso do novo coronavírus, essa capacidade está limitada e os estudos apontam para bebés nascidos sem doenças congénitas. E embora existam casos reportados de nascimentos prematuros em grávidas infetadas com COVID-19, não há dados disponíveis que comprovem, de forma inequívoca, a relação entre a infeção e a prematuridade.
Precauções a tomar
Ainda sobre este aspeto em concreto, segundo a Direção-Geral da Saúde, outras infeções virais respiratórias que ocorrem durante a gravidez, como a gripe, têm sido associadas a complicações neonatais, incluindo baixo peso ao nascer e prematuridade. Além disso, ter uma constipação ou gripe com febre alta no início da gravidez pode aumentar o risco de certas malformações congénitas. No caso da COVID-19, essa relação não está estabelecida. Portanto, o melhor é tomar todas as precauções, para prevenir este ou outros vírus.
Também não existe evidência sobre a transmissão do novo coronavírus pelo leite materno. Apesar disso, não amamentar é uma decisão a ponderar no caso de infeção, uma vez que há risco de transmissão ao recém-nascido por contacto de proximidade.
Tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) como a UNICEF recomendam a manutenção do aleitamento materno. Se a mulher suspeitar que está infetada, deve procurar assistência médica o mais rapidamente possível e seguir as recomendações do profissional de saúde.
Em qualquer caso, para prevenir o risco de infeção – uma vez que a proximidade entre mãe e recém-nascido é grande e há um elevado número de pessoas assintomáticas – pode ser útil o uso de máscara quando o bebé é amamentado, no momento do banho e nas mudas de fralda. Recomenda-se também a frequente lavagem de mãos e a desinfeção de superfícies.
Ajustes necessários
Em suma, não há razão para adiar a maternidade devido ao novo coronavírus. As precauções são semelhantes relativamente a outros vírus. Durante a gravidez e, em particular, no acompanhamento da gestação, é importante controlar a ansiedade e evitar deslocações desnecessárias ao médico. Além disso, ter sempre presente três medidas preventivas: evitar locais fechados e com muitas pessoas, usar máscara e garantir a higiene adequada e frequente das mãos ao longo do dia.
Atualmente, para minimizar a ansiedade gerada pela pandemia, clínicas, hospitais e centros de apoio à grávida ajustaram-se para garantir um acompanhamento o mais próximo da normalidade possível. Existem aulas de preparação para o parto online e, nos casos em que não é permitido um acompanhante nas ecografias, a consulta pode ser assistida por videochamada.
As medidas de segurança no momento do parto também foram adaptadas para tentar impedir o contágio por COVID-19. Embora o protocolo seja diferente em cada um dos hospitais e clínicas, são efetuados testes no momento da admissão, além de outras medidas preventivas, como o uso de máscara e desinfeção de mãos e espaços.
Durante o período crítico da pandemia, a presença de acompanhantes durante o parto esteve limitada ou mesmo proibida em muitos países, incluindo Portugal, mas sendo este um momento tão importante para os pais e para a criança, e que tanta ansiedade estava a causar, as recomendações foram atualizadas por forma a permitir a presença de um companheiro ou de um familiar. As Sociedades Médicas, a OMS e UNICEF foram algumas das entidades que sempre defenderam o direito da mãe ao acompanhamento no parto, deixando ao critério dos médicos os casos de doença grave em que a mãe necessite de entubação e anestesia geral.
Artigo publicado na edição de fevereiro 2021 (nº 313)
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