É frequente ouvirmos “Eu sempre planeei que depois de me reformar iria viajar, brincar com os meus netos, fazer mais desporto… e agora não consigo sequer ler ou conduzir… E não consigo ver o rosto dos meus netos… Foi-me diagnosticada degenerescência macular relacionada com a idade numa fase avançada”. A DMI é a primeira causa de cegueira em Portugal depois dos 55 anos. Mas pode ser prevenida e tratada.
Artigo da responsabilidade do Prof. Rufino Silva. Presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO)
O que é a DMI
A degenerescência macular relacionada com a idade (DMI) é uma doença que afeta a mácula e que nas suas fases mais avançadas pode impedir a pessoa de ler, conduzir, ver televisão, ver as horas ou o rosto das pessoas com quem fala.
A mácula é um tecido fino e sensível à luz – mais fino que um selo – que se encontra na parte posterior do olho, na área central da retina. É esta parte do nosso olho que recebe os estímulos luminosos que depois são transmitidos ao cérebro e percebidos como imagens.
A DMI é uma doença que o médico oftalmologista pode diagnosticar facilmente. Em Portugal, existem cerca de 400.000 pessoas, com mais de 55 anos, com a doença. Felizmente, a grande maioria tem as formas precoces desta patologia. Cerca de 20.000 tem a forma avançada com atrofia geográfica e 17.000 a forma avançada com neovascularização. São estas duas formas da doença que dão perda grave de visão e cegueira.
Os sintomas
Nas suas formas iniciais, a DMI pode passar despercebida, pois os sintomas são muito ténues ou nulos. Alteração na perceção dos contrastes ou das cores que, na maioria das vezes, são quase impercetíveis para o doente. No entanto, é importante fazer o diagnóstico nesta fase para tomar medidas de prevenção em relação à progressão e agravamento.
Nas fases mais avançadas, há sintomas bem nítidos e uma pessoa com mais de 55 anos que comece a ver distorcido com um olho ou com os dois (por exemplo, as faces das pessoas, os umbrais das portas ou os telhados parecem tortos) deve consultar imediatamente um médico oftalmologista porque, em princípio, tem uma forma da doença chamada exsudativa ou húmida. Se começar logo o tratamento, antes de perder visão, conseguimos bons resultados para o futuro.
Uma outra forma tardia ou avançada da doença é a forma atrófica ou seca com atrofia geográfica. Aqui, a perda de visão é mais lenta e temos esperança de que este ano ainda seja aprovado um tratamento capaz de reduzir a progressão da doença.
Prevenção e tratamento
A DMI tem uma carga genética grande, relacionada com idade, e esse fator os médicos oftalmologistas ainda não conseguem alterar. Contudo, o risco de ter a doença e de vir a perder a visão pode ser muito reduzido se seguirmos as medidas adequadas: não fumar, ter uma dieta rica em frutas, vegetais, legumes. O médico oftalmologista poderá ainda prescrever vitaminas e antioxidantes quando estiver indicado.
Quanto ao tratamento, uma das formas avançadas da doença – a DMI exsudativa, que é aquela que pode provocar perda de visão e cegueira em poucas semanas – tem tratamento. O tratamento com injeções oculares (intravítreas) pode parar a perda de visão e fazer recuperar visão perdida. É muito importante que se inicie o tratamento nas duas primeiras semanas após o inicio dos sintomas. Quanto mais cedo se iniciar o tratamento maior é a probabilidade de a pessoa conservar uma visão que permita ler ou conduzir. Quando o tratamento é iniciado tarde demais, a visão já é muito baixa e ainda que fique melhor com o tratamento, vai ficar longe da visão que permita a condução.
Principais recomendações
Se tem mais de 55 anos, consulte o seu médico oftalmologista regularmente, em cada 2 a 3 anos. Ele poderá fazer o diagnóstico da doença nas suas diferentes fases.
Se tem DMI nas fases precoces, deve fazer a profilaxia: dieta rica em vegetais, legumes, frutas; deixar de fumar e poderá estar indicado tomar antioxidantes e vitaminas prescritos pelo seu medico oftalmologista.
Se tem mais de 55 anos e nota distorção na visão, deve procurar com urgência o médico oftalmologista. Até prova em contrário, pode ser DMI e o tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível, de preferência até duas semanas depois dos primeiros sintomas.
Uma forma muito simples de avaliar se há distorção das imagens consiste em usar uma grelha quadriculada. Com um olho de cada vez e utilizando os óculos de ver ao perto, olhe para o ponto central da imagem (primeira imagem). Se notar as linhas distorcidas ou uma mancha preta (segunda imagem) consulte o seu médico oftalmologista.
Para mais informações sobre saúde ocular, consulte o site da SPO: https://spoftalmologia.pt/
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