A menopausa ainda é obscurecida pela desinformação e, implicitamente, por falhas na atuação sobre a saúde e a qualidade de vida das mulheres.

Artigo da responsabilidade do Dr. Joaquim Neves. Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Especialista em Obstetrícia e Ginecologia pelo Hospital Santa Maria e Ordem dos Médicos.

 

 

A menopausa é um fenómeno único. Consiste na idade em que as mulheres têm as últimas perdas menstruais e coincide com a perda da função ovárica, que se inicia com a menarca. Estima-se que as mulheres vivem, em média, 30 anos após a menopausa.

Em 2022, a população portuguesa residente foi calculada em 10.444.242 no total, 4.714.194 habitantes correspondendo a pessoas com 50 anos ou mais, das quais 1.178.651 mulheres entre os 50 e os 64 anos, e 1.416.134 com 65 anos ou mais. Portanto, 53% da população portuguesa residente com mais de 50 anos é do género feminino, com maior esperança de vida (83 anos) – ou seja, com 21 anos de vida após os 65 anos – e com maior longevidade, comparativamente com o género masculino.

A questão essencial é se maior longevidade e esperança de vida corresponderão a melhor qualidade de vida, sem doenças e sem restrições nas atividades diárias.

SINTOMAS VASOMOTORES

Na abordagem das mulheres em menopausa/pós-menopausa existem aspetos que devem ser avaliados: presença de sintomas vasomotores (suores; afrontamentos), sintomas geniturinários (exemplo, secura vaginal, infeções urinárias), alterações do humor, alterações na composição corporal/peso, alterações na distribuição pilosa, risco cardiovascular, queixas associadas ao pavimento pélvico, fragilidade óssea, alterações cognitivas, risco oncológico e de doenças endócrinas.

Os sintomas vasomotores são as queixas mais tipicamente associadas à menopausa e pós–menopausa. São referidos em 30 a 50% das mulheres com 50 anos ou mais, e o número de episódios por dia (5) e por semana (35), correspondem à necessidade de discutir a intervenção farmacológica com as utentes/doentes.

TRATAMENTO HORMONAL

O tratamento hormonal (TH) é a alternativa de eleição, na ausência de contraindicações. Nestas condições é considerado seguro e eficaz. A valorizar a individualização da abordagem do TH, a idade da iniciação do TH e a existência de alternativas não hormonais para o alívio dos sintomas vasomotores.

Em mulheres com idade inferior ou igual a 60 anos, nos primeiros 10 anos após a menopausa, e sem contraindicações, os benefícios do TH são superiores aos eventuais riscos. A duração do TH exclusivo com estrogénios pode ser alargada.

O risco do cancro da mama é sempre um tema presente. Em 2019, foram revelados os dados de uma avaliação realizada entre 1990 e 2018, em que detetaram 20 milhões de casos de cancro da mama e 1 milhão destes estariam associados ao tratamento hormonal (TH) na menopausa/pós-menopausa. E os restantes 19 milhões estariam associados a que causa?

As alternativas para aliviar os sintomas vasomotores existem e essa continua ser uma área de investigação. Nos EUA, já existem novas opções comercializadas e, na Europa, estão em fase final de investigação outras alternativas (fármacos específicos dos recetores centrais (SNC) da termorregulação, como o fezolinetant e o elinzanetant).

SÍNDROME GENITURINÁRIA

A síndrome geniturinária na pós-menopausa é sub-diagnosticada e sub-tratada, sendo pouco valorizada pelos profissionais de saúde e pelas mulheres. Estima-se que apenas 25% das mulheres afetadas recorre ao apoio médico. Se não forem questionadas de forma assertiva, as mulheres não a valorizam; mesmo aquelas que dizem fazer a sugestão que lhes é recomendada revelam utilização irregular.

Nas opções da intervenção médica existem os lubrificantes hormonais e não hormonais; e, mais recentemente, o ospemifeno por via oral. São diferentes opções de abordagem e, na sua maioria, não são comparticipadas.

FRAGILIDADE ÓSSEA

A fragilidade óssea, sobretudo a respetiva forma primária, é um problema de saúde, essencialmente das mulheres idosas. Os dados do estudo EpiReumaPt, baseado no inquérito de 10.661 pessoas ao longo de 2 anos, revelaram que 10,2% (1066) apresentavam fragilidade óssea e que, em relação ao total, 17,2% correspondiam a mulheres e 2,6% homens. O fator genético é o mais revelante, incluindo o recetor estrogénico.

Os estrogénios são essenciais no metabolismo ósseo, interferindo na reabsorção, aumentando a ação da calcitonina no osso, reduzindo a excreção renal de cálcio e promovendo efeitos anti-inflamatórios no tecido ósseo com a modulação de citocinas. O despiste da fragilidade óssea deve, por isso, ser enaltecido nas mulheres indicadas.

COMO É VIVIDA ESTA FASE?

O estudo “Menopausa – Como é vivida pelas mulheres em Portugal” foi desenvolvido para maior detalhe das perspetivas das mulheres. A consciencialização das mesmas em relação à menopausa e pós-menopausa é basilar.

Nesse período poderão ocorrer alterações que favorecem implicações físicas e psicológicas, não sendo de admirar que algumas mulheres a considerem como uma fase crítica da vida.

A sintomatologia associada é heterogénea em diferentes aspetos, portanto, a individualização da abordagem das mulheres é recomendável.

A iliteracia ou o desconhecimento nesta matéria por parte das mulheres é significativa e, sobretudo, resulta da ausência de informação, pedagogia ou discussão do assunto, incluindo com os profissionais de saúde.

Os dados desta análise revelaram que, nesta amostra, os primeiros sintomas surgem aos 49 anos, com uma duração média de 2 anos, e apenas 11% das mulheres apresenta sintomas em 5 anos. Os sintomas que mais reconhecem são aumento do abdómen (supostamente gordura visceral), afrontamentos, alterações do sono e fatigabilidade. Existe alguma dificuldade nas mulheres em associar estes sintomas à menopausa/pós-menopausa e mostram-na na expressão que algumas apresentam de que “eu não era assim”.

Leia o artigo completo na edição de outubro 2024 (nº 353)

Texto originalmente publicado como prefácio do Estudo “Menopausa: Como é vivida pelas mulheres em Portugal”, promovido pela Wells, junho 2024″