Fumar faz mal. Isto não é surpresa para ninguém, ainda que, segundo estimativas, 1.5 milhões de portugueses com mais de 15 anos o façam. Acredito que a repetição de mensagens é uma boa forma de estimular a mudança de comportamentos e, por isso, não me canso de dizer: fumar faz mal. Mas repetir informação sem explicar o porquê pode não ter o efeito que se procura e, por isso, neste artigo, irei desconstruir o tema e focar-me, especialmente, na saúde oral, já que a boca é a grande “porta de entrada” do fumo (e de todos os componentes presentes num cigarro).

Artigo da responsabilidade de Daniela Rodrigues. Higienista Oral na Malo Clinic Coimbra

 

Ao contrário do que muitas pessoas acreditam – ou escolhem acreditar -, o tabaco não leva apenas ao desenvolvimento de manchas nos dentes e mau hálito. Esses são os efeitos prejudiciais mais visíveis, porém, existem muitos mais que não se manifestam de forma tão clara e que podem vir a ter consequências verdadeiramente desastrosas. Isto porque um cigarro contém cerca de 4.500 substâncias tóxicas, como acetona, benzeno, chumbo ou alcatrão. Destes milhares de substâncias, sabe-se que à volta de 70, um número significativo, causa cancro.

Este é um problema de saúde pública. Quando uma pessoa fuma, não está apenas a afetar o seu organismo, mas também o das restantes pessoas que a rodeiam, daí a famosa distinção entre fumador ativo e fumador passivo. Por isso, recorde-se de que sempre que levar um cigarro à boca, está a perpetuar um hábito com consequências para si e para todos os que estão à sua volta.

Mas, então, que repercussões são essas?

Já falei, neste artigo, sobre as duas que mais percetíveis e imediatas são. Os fumadores têm dentes amarelados e com manchas, pois substâncias como o alcatrão e a nicotina depositam-se na superfície dentária, causando a pigmentação. Por outro lado, o tabaco reduz a produção salivar, levando a uma boca mais seca. Esta condição associada aos componente nocivos do tabaco levam ao aparecimento do mau hálito.

A doença periodontal é também uma das graves consequências do cigarro. As substâncias nocivas presentes no tabaco, nomeadamente a nicotina, levam a uma destruição dos tecidos de suporte do dente, perda óssea e recessão gengival. Para além disso, o tabaco é um vasoconstritor, ou seja, reduz a irrigação sanguínea e os sintomas da doença acabam, por isso, por ser mascarados, não se tornando evidente a inflamação dos tecidos ou alterações de cor. O que pode tornar o diagnóstico tardio da doença periodontal.

Outra repercussão do tabaco são as cáries dentárias. É importante ter em conta que a cárie não é, por si só, um fator causado pelo cigarro, mas sim uma real consequência da diminuição salivar causada pelo tabaco. Ao diminuir o fluxo salivar, impede a
neutralização dos ácidos provenientes dos alimentos, ficando assim a superfície
dentária exposta mais tempo à ação da placa bacteriana, aumentando o risco de cárie
dentária. Além disso, ao existir uma perda de estruturas que suportam o dente,
nomeadamente as gengivas, a raiz do dente acaba por ficar exposta, resultando então em
cáries radiculares.

É importante referir ainda que qualquer tratamento oral feito a um paciente fumador
poderá ter uma taxa de êxito mais reduzida. Como já vimos, as substâncias nocivas
presentes no cigarro diminuem a irrigação sanguínea das estruturas de suporte e
consequentemente reduz a capacidade de cicatrização e regeneração dos tecidos, podendo
alterar, assim, o sucesso dos tratamentos.

Por último, destaco o cancro oral, cujo principal fator de risco é o tabaco. Este
cancro pode afetar qualquer zona da boca, como língua, gengivas ou até amígdalas, e é
o sexto mais comum. É importante alertar para o facto de a taxa de mortalidade associada
a esta doença ser elevada, especialmente por ser muito silenciosa e por ser
diagnosticada já em estados avançados.

É ainda essencial que os fumadores sejam acompanhados pelo menos de quatro em quatro
meses pelo higienista oral ou médico dentista, por estas razões que apresentei e por
tantas outras. O tabaco tem um real impacto na nossa saúde oral e saúde geral. Um
“provavelmente está tudo bem” pode rapidamente transformar-se numa notícia infeliz.
Deve ser garantida uma rotina de higiene oral cuidada e contínua e é fundamental
procurar regularmente por possíveis alterações nas mucosas da cavidade oral, realizando
diariamente o autoexame do cancro oral.

Por si e pelos seus, escolha a Saúde Oral.