O tratamento do cancro da mama tem vindo a mudar – e para melhor! Para as pessoas diagnosticadas com esta doença, isto significa esperança real em tratamentos que contribuam para prolongar a vida e que permitam vivê-la com qualidade.

Artigo da responsabilidade da Dra. Susana Sousa. Oncologista na Unidade da Mama do Hospital CUF Porto

 

O cancro da mama é, ainda hoje, uma das doenças que mais afeta a população feminina em todo o mundo. De todos os diagnósticos de cancro, o da mama é o mais frequente na mulher, o que também acontece em Portugal, onde se registam anualmente cerca de 9000 novos casos. Mas há boas notícias! Os avanços das últimas décadas no diagnóstico e nas terapêuticas têm melhorado significativamente a sobrevivência, com taxas que rondam os 90% (ou até mais) cinco anos após o diagnóstico, valores acima da média europeia.

DIAGNÓSTICO PRECOCE, SEMPRE

Um dos fatores que mais contribui para estes números encorajadores no que diz respeito à sobrevivência é, sem dúvida, o diagnóstico precoce. Como é fácil de entender, diagnosticar um cancro da mama numa fase avançada da doença é diferente de o diagnosticarmos num estadio inicial, em que as hipóteses de cura são elevadas.

E como se consegue aumentar o número de casos diagnosticados em estadios iniciais? Através dos exames de diagnóstico, muito importantes e que não devem ser adiados. Como é o caso do rastreio, que, em Portugal, abrange atualmente a população feminina dos 45 aos 74 anos e está implementado de Norte a Sul, bem como nas ilhas.

TRATAMENTO MOLDADO PARA CADA CASO

Contudo, o avanço crucial nos últimos anos não tem sido apenas diagnosticar o cancro da mama mais cedo: tem sido tratá-lo de forma mais eficaz, personalizada e com foco também em minimizar os possíveis impactos negativos do tratamento.

Hoje, com tudo o que já conhecemos desta doença, não falamos de “um” cancro da mama, mas de “vários” cancros da mama, como se não se tratasse só de uma doença, mas de várias doenças. Cada tumor pode ter características diferentes, que lhe conferem comportamentos biológicos diferentes e os tratamentos estão cada vez mais ajustados a essas particularidades individuais. Ou seja, em vez de uma abordagem única para todas as pessoas com este diagnóstico, o tratamento agora é pensado e “moldado” para cada caso. É a chamada “medicina personalizada”.

TERAPIAS-ALVO E ANTICORPOS CONJUGADOS

Neste contexto, os tratamentos dirigidos – ou terapias-alvo – têm ganhado destaque. Estes medicamentos conseguem identificar e ligar-se especificamente às células tumorais, com menor probabilidade de agressão das células saudáveis. Assim, são eficazes no controlo da doença, mas com potencialmente menos efeitos secundários e com melhoria da qualidade de vida durante o tratamento.

Nos últimos anos, surgiu uma nova forma de tratar o cancro da mama que traz muita esperança: os anticorpos conjugados. Estes medicamentos são também tratamentos dirigidos, que funcionam como “guias inteligentes”, os quais conseguem identificar as células cancerígenas de forma muito precisa. O que os torna especiais é que, além de reconhecerem o tumor, levam diretamente um medicamento (quimioterapia) até às células do cancro. Conseguem, assim, atuar contra o tumor de uma forma mais eficaz, tentando proteger as células saudáveis do corpo. Isto significa que os tratamentos com anticorpos conjugados podem ser mais eficazes e, ao mesmo tempo, com menos efeitos secundários, tornando o processo mais tolerável para os doentes.

ÁREAS PROMISSORAS

Outra área promissora na Oncologia é a imunoterapia, que tem sido usada já há muito tempo – e com sucesso – em outros tipos de cancro, mas que atualmente desempenha um papel relevante também no tratamento do cancro da mama em todas as fases da doença, sobretudo no chamado cancro da mama triplo negativo.

A imunoterapia, em vez de atuar diretamente no tumor, como faz a quimioterapia, vai estimular o próprio sistema imunitário a reconhecer e combater as células malignas.

Como todos os tratamentos, a imunoterapia pode causar efeitos laterais, que são geralmente diferentes dos da quimioterapia ou de outros tratamentos antineoplásicos, porque resultam de reações ligadas ao sistema imunitário, como inflamações na pele, pulmões, intestinos ou outros órgãos, uma vez que o sistema imunitário fica mais ativo. Por isso, é importante informar precocemente a equipa médica se surgirem sintomas como tosse, falta de ar, diarreia ou erupções cutâneas.

Nos últimos anos, houve grandes progressos, não só nos medicamentos utilizados para tratar o cancro da mama, mas também nas formas como esses medicamentos são administrados. Estes avanços são muito importantes porque, mantendo a eficácia, tornam o tratamento mais confortável para os doentes. Por exemplo, alguns fármacos que eram administrados por via endovenosa podem agora sê-lo por via subcutânea (sob a pele). Esta forma de administração é mais simples e rápida, pode ser feita em menos tempo e com menos desconforto para o doente.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2025 (nº 363)