As demências não têm ainda cura, mas conhecem-se hoje vários fatores de risco que lhes estão associados e que podem ser minimizados se forem adotadas estratégias adequadas. É para estas estratégias que a Associação Alzheimer Portugal, com o apoio da Roche, chama a atenção no âmbito do Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer, que se assinala hoje, através de uma campanha inédita que convida os portugueses a partilharem experiências para memória futura.
É que a demência não faz parte do envelhecimento normal, pode ser evitada ou pelo menos o início dos sintomas pode ser adiado e/ou progredir de forma mais lenta, designadamente “em pessoas que fizeram mais estudos e que têm maior atividade intelectual”, confirma Celso Pontes, neurologista e presidente da Comissão Científica da Alzheimer Portugal. Por isso mesmo, aconselha ser importante cuidar do cérebro, desde novos e ao longo da vida.
“Conhecem-se hoje vários fatores de risco associados às Demências que podem ser minimizados se forem adotadas estratégias adequadas, relacionadas com um estilo de vida saudável e com a estimulação intelectual e social”, acrescenta Catarina Alvarez, responsável pelas Relações Institucionais da Alzheimer Portugal, que salienta ainda a importância de aumentar a literacia dos portugueses sobre o tema e, ao mesmo tempo, “levar a cabo iniciativas que contribuam para melhorar a saúde do nosso cérebro e contrariar as estimativas previstas referentes ao número de pessoas que desenvolverão Demência nos próximos anos”.
Para isso, durante o mês de setembro, a Associação lança uma campanha que “convida os cidadãos a participarem em experiências, online, que os ajudem a conhecer os fatores de risco modificáveis e o que podem fazer para os reduzir”, refere Catarina Alvarez. Serão cinco: uma “sala de convívio” em direto, uma de leitura partilhada, um workshop de alimentação saudável, um ensaio musical e uma sessão de treino. Todas dinamizados por figuras públicas.
Não se conhece ainda o número exato de pessoas com demência em Portugal, mas os dados existentes permitem fazer estimativas, que apontam para “cerca de 205.000 casos de demência, sendo a Doença de Alzheimer cerca de 60 a 70% destes. A incidência, para Portugal, seria de 19,9 por mil habitantes. Para uma população de dez milhões, daria cerca de 199.000, o que seria próximo do número estimado, e dá-nos uma ordem de grandeza do problema”, refere Celso Pontes.
E, apesar de se falar mais sobre o tema, Catarina Alvarez alerta para o estigma, que “ainda persiste, sendo que as falsas crenças, os estereótipos e as atitudes negativas em relação à doença contribuem para adiar o diagnóstico”. O que significa que, muitas vezes, “os primeiros sintomas podem ser desvalorizados junto dos familiares e amigos e não serem reportados numa consulta médica porque não se quer fazer parte de um grupo-alvo de exclusão e deixar de ser aceite. Além disso, o estigma gera outras consequências graves: evitação, isolamento, baixa autoestima, depressão, redução da independência e da qualidade de vida”.
Um estigma que afeta também os familiares e cuidadores e que urge combater, com mais e melhor informação. “Por todas estas razões, é fundamental combater o estigma, aumentando a consciencialização, aceitação e compreensão”, avança Catarina Alvarez “Apesar de a Demência implicar vários desafios, o importante é criar condições que facilitem não só a ocupação e o lazer, como a efetiva participação social das Pessoas com Demência e defesa dos seus direitos.”
E é por isso que luta também a Alzheimer Portugal, que há 32 anos informa, apoia e encaminha para as respostas na comunidade, capacita quem vive com a doença e quem presta cuidados e desenvolve respostas específicas e especializadas em vários pontos do país.