É extremamente importante sabermos interpretar os rótulos dos produtos alimentares para termos conhecimento do que realmente estamos a consumir e podermos fazer escolhas informadas.

 

 

Pela nutricionista Lillian Barros

 

Chegamos a um supermercado e somos imediatamente inundados de opções de produtos alimentares. Muitos deles parecerem similares, mas a lista de ingredientes é completamente díspar. Outros aparentam ser extraordinariamente saudáveis, mas de saudável nada têm.

Desta forma, torna-se extremamente importante sabermos interpretar os rótulos dos produtos alimentares para termos conhecimento do que realmente estamos a consumir e podermos fazer escolhas informadas. Foi com este propósito que convidei a Eng.ª Dulce Ricardo, coordenadora da Deco Proteste, para participar na nova temporada do Podcast Lógica da Batata onde falámos sobre a forma como compram os portugueses, como escolhem os produtos e o que valorizam nos rótulos nutricionais. 40% dos consumidores não sabem ou não consultam os rótulos nutricionais, apesar de serem eles a chave para a compra consciente e um dos pilares da alimentação saudável. Saber comprar é uma das principais ferramentas para saber comer.

Com efeito, os rótulos alimentares possuem uma série de menções obrigatórias destinadas a fornecer toda a informação necessária sobre o produto alimentar. Porém, quando o objetivo é a busca de uma alimentação saudável há duas menções que se destacam – a lista de ingredientes e a declaração nutricional.

Em primeiro lugar, devemos observar a lista de ingredientes. Esta encontra-se organizada do ingrediente que está em maior quantidade para o que está em menor quantidade. A partir desta informação podemos desde logo depreender que os produtos que contêm açúcares ou gorduras nos primeiros lugares serão, na sua maioria, ou em grande parte, constituídos por eles e, por este motivo, devem ser evitados ao máximo.

Mais ainda, é importante realçar que estes dois nutrientes podem ter diversas denominações:

Açúcar ≈ sacarose, açúcar invertido/amarelo/mascavado/coco, glicose, frutose, maltose, dextrose, maltodextrina, extrato de malte, amido modificado, melaço, mel, xaropes…

Gordura ≈ gordura hidrogenada ou parcialmente hidrogenada, gordura ou óleos vegetais, manteiga, margarina, manteiga de cacau, ácidos gordos…

No que diz respeito aos aditivos alimentares, existem determinados aditivos totalmente inócuos e efetivamente necessários para manter as caraterísticas do produto alimentar. Por exemplo, o E300 ou ácido ascórbico é nem mais, nem menos do que vitamina C e atua como antioxidante, evitando o escurecimento de sumos de fruta, por exemplo. Também o E330 é apenas ácido cítrico – presente nas frutas cítricas, assim como o corante E100 é simplesmente curcumina – extraída da raiz da curcuma.

Ainda assim, a maioria dos aditivos poderia ser perfeitamente dispensada. Por exemplo, as barritas energéticas contêm frequentemente na sua composição uma extensa lista de aditivos, tais como emulsionantes, humidificantes, espessantes, gelificantes, corantes, agentes de volume e de endurecimento e edulcorantes, por forma a melhorar as suas caraterísticas organoléticas. Contudo, existem igualmente no mercado barritas com apenas três ingredientes: tâmaras, amendoins e sal, por exemplo.

Assim, à partida, será preferível uma lista com menor número de ingredientes e com nomes que reconheçamos, para garantirmos que sabemos aquilo que estamos a consumir.

Depois de analisarmos a lista de ingredientes, devemos examinar a declaração nutricional, de forma a avaliar o verdadeiro impacto dos ingredientes na composição nutricional do alimento. Por exemplo, um produto alimentar poderá conter açúcar, mas apenas 0,5 g por porção, o que à partida não será minimamente significativo. Pelo contrário, a tal barrita com apenas três ingredientes, apesar de ser constituída por ingredientes perfeitamente saudáveis, é densamente calórica e, por isso, poderá não ser a melhor opção num processo de perda de peso.

Por forma a facilitar a interpretação dos valores da declaração nutricional, surgiu o descodificador de rótulos da DGS, para alimentos sólidos e para bebidas. Através dele conseguimos analisar, com base na gordura, gordura saturada, açúcar e sal, se o produto é uma boa opção para nós:

Torna-se igualmente importante diferenciar os produtos alimentares. A título de exemplo, os frutos oleaginosos têm um elevado teor de gordura, motivo pelo qual se encontram na faixa vermelha, mas tal não significa que não os possamos consumir. Com moderação, o seu consumo é benéfico para a saúde.

Por último, sublinhar que um produto que mencione ser isento de glúten, sem lactose, bio, fonte de fibra, light, enriquecido com ómega 3, vitaminas, não significa que seja mais saudável! Umas bolachas sem glúten podem igualmente estar carregadas de açúcar e gordura e de uma extensa lista de aditivos.

Assim sendo, na hora de fazer as suas compras, não descure a interpretação dos rótulos alimentares. Antes de escolher um novo produto, procure verificar a lista de ingredientes e complementar com a análise da declaração nutricional. Desta forma, conseguirá identificar corretamente se o produto é o mais adequado para si e para os seus objetivos nutricionais e fazer escolhas alimentares conscientes.

Assista à segunda temporada do Podcast “Lógica da Batata” sobre Alimentação, Saúde e Bem Estar com convidados de várias especialidades, moderado pela Nutricionista Lillian Barros

Assista ao episódio sobre Literacia Alimentar aqui

IG: @nutricionistalillian