Em pleno século XXI, a saúde mental ainda é um tema desconhecido, e até tabu, para muitas pessoas. A pandemia veio abrir caminho para a sua desmistificação e colocá-la sob os holofotes públicos, tornando-a um desafio individual, mas também de saúde pública.

Novos problemas emergiram ou, finalmente, receberam a atenção devida, como é o caso do burnout, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu na lista de doenças ocupacionais, ou seja, das doenças contraídas em contexto laboral.

No Dia Mundial da Saúde Mental, 10 de outubro, especialistas da Médis alertam para a necessidade dos sintomas do burnout serem mais conhecidos, para que se possa prevenir ou detetar precocemente doença, evitando o seu agravamento.

ESTADO DE ESGOTAMENTO FÍSICO E MENTAL

Segundo a OMS, o burnout é um estado de esgotamento físico e mental causado pela incapacidade de gerir o stress decorrente de uma atividade profissional. Esta síndrome pode ocorrer, por exemplo, quando as exigências laborais são desajustadas face aos conhecimentos e/ou às capacidades dos trabalhadores.

Os sinais e sintomas do burnout podem passar por perda de produtividade laboral, sensação de exaustão, sentimentos negativos, acabando por também ter um impacto negativo sobre a vida pessoal e familiar do profissional.

IMPACTO NO ORGANISMO E SINTOMAS TRANSVERSAIS

Ao caracterizar-se como um estado de exaustão, seja a nível físico, emocional, mental ou comportamental, o burnout tem consequências que, mais cedo ou mais tarde, são visíveis no organismo. Estar em burnout é viver num stress constante, sempre em alerta.

E biologicamente, tudo fica desregulado. Aumentam as hormonas do stress (níveis de cortisol) assim como a tensão arterial e o nível de açúcar no sangue (glicemia). Os sistemas hormonal, neuroendócrino e imunológico ficam desequilibrados – consequentemente, as defesas do organismo ficam fragilizadas, potenciando o aparecimento de outras doenças.

Assim, é fundamental estar atento à frequência e constância dos sintomas:

  • Físicos – Problemas gastrointestinais, aumento dos batimentos cardíacos (taquicardia) , sensação de falta de ar, tonturas, transpiração excessiva, problemas cardiovasculares, enxaquecas, fadiga crónica, tensão muscular com dor, insónias, alterações do apetite, sistema imunitário fragilizado.
  • Emocionais – Tristeza, apatia, falta de prazer nas tarefas diárias, frustração, irritabilidade, sensação de injustiça e de falta de recompensa, ansiedade, depressão ou baixa autoestima, entre outros sinais.
  • Cognitivos – Dificuldade de concentração, lapsos de memória constantes, confusão mental, maior lentidão na execução de tarefas, decréscimo da criatividade, pensamento persistente no trabalho, necessidade de controlo.
  • Comportamentais – Impessoalidade, atitude de crítica constante, evitamento, impulsividade e irritabilidade, abuso do consumo de tabaco, cafeína, álcool, drogas ou medicação.
  • Sociais – Isolamento, falta de empatia, comportamento conflituoso com familiares, amigos e colegas de trabalho.
  • Existenciais – Conflitos de valores e crenças, necessidade de redefinir prioridades e objetivos, raiva e revolta perante o caminho que a vida está a tomar, alteração da forma como o indivíduo se perspetiva.
  • Laborais – Atrasos, absentismo, baixas médicas constantes, maior rotatividade laboral, maior número de erros no trabalho, baixa realização profissional, vontade de desistir e menor produtividade e eficácia.

COMO PREVENIR

burnout não é uma síndrome atribuível a um grupo determinado de pessoas. Pelo contrário, ninguém está imune. Porém, há quem seja mais vulnerável, como pessoas com baixa autoestima ou dificuldade em lidar com o stress.

Praticar exercício físico, conviver com outras pessoas e aplicar técnicas de relaxamento, são um caminho possível para regular o organismo e a restabelecer o equilíbrio emocional.

No local de trabalho, também há estratégias de prevenção que propiciam a criação de um ambiente mais saudável. E as empresas podem contribuir de forma decisiva. Algumas medidas:

  • Estabelecer expetativas realistas a todos os colaboradores e garantir que todos as compreendem;
  • Garantir os recursos e as competências que tornem as expetativas exequíveis;
  • Criar planos de formação contínua para desenvolver ou consolidar competências;
  • Alinhar objetivos e valores da empresa com os Colaboradores e demonstrar a importância do seu contributo para o sucesso da empresa e para a sua realização profissional;
  • Estabelecer horários de trabalho razoáveis e possibilitar, se possível, trabalho o remoto;
  • Encorajar o apoio mútuo e o respeito dentro das equipas;
  • Encorajar os Colaboradores a praticarem atividade física, criando, por exemplo, grupos informais para a prática de uma modalidade;
  • Promover curtos períodos de férias (e.g., fins de semana prolongados) para Colaboradores que concentrem demasiado os seus dias de férias num determinado período do ano;
  • Capacitar chefias para a identificação e mitigação do risco de burnout.