A síndroma metabólica é uma combinação de distúrbios que aumentam o risco de desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes. Alguns especialistas consideram-na uma autêntica bomba-relógio.

 

Uma das manifestações da síndroma metabólica – e talvez a mais importante – é a obesidade abdominal. Ainda não são bem conhecidos todos os mecanismos que conduzem à síndroma metabólica, mas constata-se que a maioria dos doentes são pessoas mais velhas, obesas, sedentárias, stressadas e que apresentam alguma resistência à insulina.

Os fatores mais importantes envolvidos na síndroma metabólica são, pois, o peso, a genética individual, a idade e o estilo de vida, que contempla demasiado stress, baixo nível de atividade física e elevada ingestão de calorias.

É comum haver um desenvolvimento de gordura visceral na área abdominal, circunstância responsável pela alteração dos níveis de uma série de substâncias no organismo, a qual conduzem a quadros de hipertensão, aterosclerose, diabetes tipo 2 e colesterol elevado. Este é um panorama que aponta claramente para o aumento do risco de poder sofrer enfartes e acidentes vasculares cerebrais.

Atuação precoce e agressiva

A deteção precoce e o tratamento intensivo da síndroma metabólica, com o objetivo de reduzir a longo prazo o risco de doença cardiovascular e de diabetes, são possíveis através da definição de critérios explícitos e acessíveis para o seu diagnóstico.

Esta definição foi conseguida há alguns anos, pela Federação Internacional da Diabetes, numa reunião de consenso que juntou especialistas em endocrinologia e diabetes, cardiologia, lipideologia, nutrição, metabolismo, epidemiologia, saúde pública e genética. Com uma definição universalmente aceite da síndroma metabólica, os médicos podem facilmente identificar os doentes com a síndroma na prática clínica.

Uma atuação precoce e agressiva reduz consideravelmente o risco acrescido do doente desencadear doença cardiovascular e diabetes tipo 2.

Critérios de diagnóstico

De acordo com a Federação Internacional da Diabetes, para que a uma pessoa seja diagnosticada a síndroma metabólica terá de ter:

Obesidade central – Definida como uma circunferência abdominal maior ou igual a 94 cm no homem e 80 cm na mulher, nos indivíduos europeus; e

MAIS DUAS DAS SEGUINTES CONDIÇÕES:

  • Aumento dos triglicéridos (igual ou superior a 150 mg/dl) ou a fazer tratamento específico para esta situação;
  • Redução do colesterol HDL – (inferior a 40 mg/dl no homem e 50 mg/dl na mulher) ou a fazer tratamento específico para esta situação;
  • Tensão arterial elevada (sistólica igual ou superior a 130 mm Hg ou diastólica igual ou superior 85 mm Hg) ou a fazer tratamento para a tensão arterial elevada previamente diagnosticada;
  • Elevação da glucose plasmática (concentração de “açúcar” no sangue) em jejum (igual ou superior a 100 mg/dl) ou diabetes tipo 2 previamente diagnosticada.

A identificação precoce das pessoas com a síndroma metabólica é um imperativo moral, médico e económico. Nestas pessoas, a modificação do estilo de vida e o tratamento farmacológico dos componentes da síndroma são a única forma de prevenir a diabetes e/ou a doença cardiovascular.

PREVENÇÃO É SEMPRE O MELHOR

Prevenir é sempre melhor do que remediar, mas para isso é necessário ter disciplina na vida. Manter um estilo de vida saudável, com exercício físico regular e uma alimentação em pouca quantidade, mas de grande qualidade, é a melhor maneira de prevenir a síndroma metabólica. Em termos nutricionais é sempre melhor seguir um regime alimentar hipocalórico, que ajuda não só a prevenir muitos problemas de saúde como contribui para uma maior longevidade.

O problema é que a maior parte das pessoas se esquece de praticar esse estilo de vida saudável, por variados motivos, desde a falta de tempo à preguiça. Há quem nunca tenha sequer pensado nisso e só quando vê o peso disparar e a barriga a aumentar é que desperta para uma realidade que já requer tratamento.

Neste caso, a primeira coisa a fazer é procurar um nutricionista. O próprio especialista pode ajudar a desenvolver e praticar uma nova filosofia de vida. O tratamento passa, obviamente, por iniciar tudo aquilo que deveria ter sido feito como prevenção: aprender a comer saudavelmente, fazer restrição calórica e praticar atividade física. Ao mesmo tempo, deve haver a consciência de fazer análises de rotina para controlar os valores de tensão arterial, colesterol e glicemia e analisar a progressão/redução dos seus níveis. Nenhum medicamento deve ser utilizado sem conselho e controlo médico, mas o nutricionista poderá aconselhar alguns suplementos nutricêuticos, como, por exemplo, os ácidos gordos ómega-3 para auxiliar a redução dos níveis de colesterol.

O ataque à gordura localizada, principalmente a que se encontra no perímetro abdominal, é fundamental para uma redução do risco de desenvolver doenças cardiovasculares. A redução de apenas 10% do peso já contribui para uma franca diminuição do risco, e uma diminuição de apenas 3 cm no perímetro abdominal é igualmente benéfica para a diminuição do risco de sofrer doenças cardiovasculares.

Leia o artigo completo na edição de julho-agosto 2022 (nº 329)