AS MUDANÇAS FÍSICAS E PSICOLÓGICAS QUE OCORREM DURANTE A MENOPAUSA TRANSFORMAM O SEXO NUM PROBLEMA PARA A MAIORIA DAS MULHERES. NO ENTANTO, UMA SEXUALIDADE PLENA E SATISFATÓRIA É PERFEITAMENTE POSSÍVEL.

 

A vida, em todas as suas fases, é feita de ciclos, uns mais complicados do que outros. A menopausa é um desses ciclos, mas não necessariamente o mais doloroso.

Se pensarmos bem, o processo de envelhecimento ocorre desde que nascemos; simplesmente, damos mais importância a esta realidade quando as funções vitais começam a escassear. Uma dessas funções vitais é a perda da capacidade reprodutiva nas mulheres. É aqui que reside um dos maiores problemas psicológicos associados à menopausa: a alteração da vida sexual.

FANTASMAS E PRECONCEITOS

É comum ouvir dizer-se que, com a chegada da menopausa, o desejo sexual pode diminuir. É verdade, pode diminuir, mas apenas se a mulher assim o desejar, porque na realidade esta alteração não é condição obrigatória da “passagem” pela menopausa. A capacidade de obter prazer sexual não declina ou acaba com o aumento da idade. Carícias são agradáveis sempre. Carinho é sempre bom de dar e receber. A capacidade e a emoção do amor não perguntam a idade a ninguém! Sendo assim, porquê esconder-se atrás de fantasmas e preconceitos?

Sabemos que a nossa cultura vive um ideal de juventude, no qual a sexualidade nas pessoas com mais de 50 anos é quase um tabu. É a imagem do sexo a pertencer apenas à juventude, onde os feios, os velhos e os fracos – todos aqueles que não têm um corpo em consonância com os ideais – nem devem sequer pensar nisso. Nesta linha de pensamento, muitas mulheres lamentam a beleza perdida e não conseguem conviver com um corpo que se modificou com o passar dos anos. Afinal, segundo estes preconceitos, quem poderia interessar-se por um corpo flácido?… É aqui que muitas mulheres decidem que a sua vida sexual chegou ao fim, porque acham que “já não têm idade”.

SINÓNIMO DE LIBERDADE

De acordo com vários estudos, entre 20 e 50 por cento das mulheres na idade da menopausa experimentam disfunções sexuais de origem psicológica, com inibição do desejo sexual. São elas que têm de enfrentar pressões relativas ao seu papel na sociedade. Muitas das expetativas e funções relacionadas com a maternidade poderão tornar-se num pesado fardo para a mulher. É que, criados os filhos, as mulheres são assaltadas por dúvidas sobre o seu novo papel. Quando termina a idade reprodutora, é comum multiplicarem-se os sentimentos de desvalorização pessoal, traduzidos em repúdio pelo corpo e pelo companheiro, bem como uma má imagem de si própria, aliada a uma posição de incompetência.

Contudo, para outras mulheres, esta nova etapa da vida é sinónimo de liberdade, de poder assumir a sua sexualidade sem o risco de uma gravidez indesejada, sem a pressão dos filhos pequenos – que atrapalham o sono ou que ocupam muita da sua atenção – e, muitas vezes, já sem a pressão da realização profissional.

ALTERAÇÕES E SOLUÇÕES

As duas principais alterações que ocorrem com a menopausa a nível sexual são a atrofia da mucosa vaginal e a redução da lubrificação, devido à quebra na produção de estrogénios. Com estas ocorrências, a mulher pode sentir um certo desconforto no início da penetração vaginal. Esta é a principal razão/desculpa para não ter vontade de iniciar a “dança do amor”.

No entanto, a solução é muito fácil, dado que o desconforto pode ser diminuído com o incremento do tempo de carícias preliminares ou anulado com o uso de um creme lubrificante, assim permitindo que a ação sexual seja agradável em todas as etapas.

Mas o diálogo com o parceiro e a procura de posições confortáveis para ambos pode ser a melhor solução para um desfecho agradável.

OUTRAS FORMAS DE “FAZER AMOR”

Por outro lado, lembrem-se que a obtenção de prazer sexual não tem de passar obrigatoriamente pela penetração. O chamado sexo não penetrativo é, igualmente, uma boa forma de “fazer amor”, conduzindo a orgasmos, por vezes, ainda mais intensos.

Entre as diversas práticas possível, contam-se a masturbação mútua, a fricção não-penetrativa entre genitálias ou o sexo oral. Não tenha medo de dialogar com o seu companheiro e, juntos, procurem encontrar as soluções mais satisfatórias – e, quem sabe, as mais inesperadas!

Por fim, vale a pena referir que, por vezes, as alterações genitais femininas proporcionam oportunidades imprevistas: na verdade, a perda de gordura dos grandes lábios pode, em alguns casos, ser favorável ao coito. É que, como a camada adiposa da região vulvar está diminuída, as terminações nervosas ficam mais à flor da pele, o que pode fazer com que o orgasmo da mulher na menopausa seja mais intenso.

Terapia de substituição hormonal

O principal tratamento para os sintomas da menopausa é a terapia de substituição hormonal (TSH), que trata a situação como uma deficiência hormonal e normaliza os respetivos níveis.

A TSH consiste em administrar, sob a forma de comprimidos, adesivos transdérmicos ou cremes, uma combinação de estrogénios e progestagénios. O estrogénio alivia os sintomas da menopausa e mantém os vasos sanguíneos, o coração e os ossos saudáveis, a longo prazo. O progestagénio provoca atrofia do revestimento do útero – endométrio –, como no período menstrual, o que é importante na prevenção do cancro do endométrio.

A TSH protege o organismo dos perigos futuros da falta de estrogénios, como a osteoporose e as doenças cardíacas. Como os estrogénios contribuem para a boa condição de muitos órgãos, a silhueta mantém-se – após a menopausa, a cintura alarga habitualmente –, o cabelo continua forte, os músculos conservam a força e o tónus e a pele mantêm a elasticidade. A TSH estimula, também, o desejo sexual e a saúde dos órgãos sexuais.

A TSH deve ser prescrita pelo médico, pois nem todas as mulheres reagem bem, enquanto outras são aconselhadas a não fazer TSH, quando existe risco aumentado de cancro da mama.

 

Dicas para um amor mais intenso

  • A reposição hormonal deve ser considerada, para a manutenção das características físicas femininas, bem como para a proteção cardiovascular proporcionada pelos estrogénios. Fale com o seu ginecologista.
  • Procure climatizar o ambiente antes dos encontros sexuais: nem demasiado quente, nem demasiado frio para si e para seu parceiro;
  • Aproveite o maior estímulo sexual do seu parceiro, procurando-o pela manhã, pois a maior disposição dele para o sexo pode ajudá-la a ter mais desejo e a ser mais estimulada;
  • Use lubrificantes nas relações sexuais para evitar o desconforto e possíveis infeções vaginais;
  • Explore novas formas de fazer amor, que não incluam a penetração;
  • Com o aparecimento de problemas sexuais de inibição e dificuldade para atingir o orgasmo, não deixe de procurar um terapeuta sexual, que pode proporcionar-lhe muitas orientações e técnicas para usufruir da sua sexualidade.
  • Caso surjam sintomas de tristeza, desânimo intenso, fadiga, irritabilidade e baixa autoestima, procure imediatamente a orientação de um especialista, pois nesta fase, com as alterações hormonais, os sintomas de depressão não são raros.

Leia o artigo completo na edição de fevereiro 2020 (nº 302)