O selénio já começou a fazer parte da estratégia terapêutica para combater o cancro da tiroide. É de esperar que, num futuro próximo, haja um maior conhecimento acerca dos mecanismos de ação envolvidos, a fim de melhorar a sua utilização na prevenção e tratamento desta doença.

Artigo da responsabilidade da Dra. Joana Malta da Costa. Nutricionista

 

 

Na recente revisão “Selénio, selenoproteínas e cancro da tiroide”, Rua et al (Faculdade de Ciências do Porto, em colaboração com a Faculdade de Farmácia de Sevilha), publicada no Journal of Trace Elements in Medicine and Biology (1), os investigadores sugeriram que diferentes formas de suplementação de selénio podem ser benéficas na prevenção e tratamento do cancro da tiroide. Contudo, os estudos têm várias limitações metodológicas. Esta revisão é um resumo do conhecimento atual sobre como o selénio e as selenoproteínas se relacionam com o cancro da tiroide.

O selénio já começou a fazer parte da estratégia terapêutica para combater o cancro da tiroide. É de esperar que, num futuro próximo, haja um maior conhecimento acerca dos mecanismos de ação envolvidos, a fim de melhorar a sua utilização na prevenção e tratamento do cancro da tiroide.

OLIGOELEMENTO ESSENCIAL

O selénio é um oligoelemento essencial que é incorporado no organismo em proteínas designadas de selenoproteínas, tendo estas importantes funções biológicas. A glândula tiroide é o órgão do corpo humano com mais concentração de selénio e que mais depende do selénio para o seu correto funcionamento. A sobreprodução de radicais livres de oxigénio, que desencadeia stress oxidativo, tem sido associada a várias doenças e ao cancro, em particular.

As selenoproteínas fornecem proteção antioxidante à tiroide, controlando o stress oxidativo causado pelos radicais livres e contribuem, através das iodotironina deiodinases, para a conversão das hormonas da tiroide.

Sabe-se que o stress oxidativo desempenha um papel importante na carcinogénese e que, nas últimas décadas, tem havido um aumento na incidência do cancro da tiroide. A ação anticarcinogénica do selénio, embora não totalmente compreendida, é atribuível principalmente às propriedades antioxidantes das selenoproteínas e à capacidade de modular a proliferação celular (ciclo celular e apoptose), o metabolismo energético e a resposta imunitária celular, significativamente alterada durante a carcinogénese.

DEFICIÊNCIA EM SELÉNIO NA EUROPA

As concentrações deste micronutriente no organismo são influenciadas pela ingestão alimentar e, por sua vez, pelo meio ambiente.

Os solos europeus apresentam níveis reduzidos de selénio, quando comparados com outras regiões do Planeta, como os Estados Unidos, Canadá ou Japão. Estima-se que cerca de 20% da população europeia não obtenha a quantidade recomendada de selénio, e Portugal não é exceção.

Há investigação que comprova que os solos agrícolas portugueses são pobres em selénio, pelo que o trigo cultivado em Portugal, principal alimento da maioria da população, assim como os vegetais e frutos, são muito pobres em selénio.
Nas últimas décadas, o consumo de selénio pela população europeia tem vindo a diminuir consideravelmente devido, essencialmente, à baixa ingestão de cereais integrais (hábitos alimentares) e ao aumento do consumo de trigo produzido nos solos empobrecidos da Europa.

NECESSIDADES NUTRICIONAIS DE SELÉNIO

A dose diária recomendada deste micronutriente é de 55 micrograma/dia para as mulheres, homens e adolescentes. Pessoas com patologia tiroideia têm necessidades acrescidas de selénio. Contudo, os estudos mostram que a ingestão de selénio pelos portugueses fica, na maioria das pessoas, aquém do valor de referência, e sendo um micronutriente essencial, que o organismo não sintetiza, resta apenas como alternativa a suplementação.

QUANDO É NECESSÁRIA SUPLEMENTAÇÃO…

Nos casos em que é necessária a suplementação, os compostos orgânicos de selénio (selenometionina e selenocisteína) têm melhor biodisponibilidade e, por isso, são mais indicados do que os compostos inorgânicos (selenito e selenato), presentes normalmente nos multivitamínicos, que acabam por ser pouco interessantes para tratar carências em selénio.

Ainda nos compostos orgânico, a selenometionina, presente nos alimentos de origem vegetal, é superior em absorção à selenociteína, presente nos alimentos de origem animal. Na hora de escolher um suplemento, deve procurar matérias-primas de qualidade e de boa absorção. Sempre que possível, deve procurar um profissional de saúde que o possa aconselhar o melhor possível, indo mais ao encontro das suas necessidades.

Leia o artigo completo na edição de maio  2023 (nº 338)