A diabetes pode ter inúmeras repercussões no olho, sendo a retinopatia diabética a mais importante.

 Artigo da responsabilidade do Dr. Gil Calvão-Santos, oftalmologista no Hospital CUF Porto

 

Os níveis elevados de açúcar podem danificar os vasos sanguíneos da retina, que é a estrutura do olho que nos permite ver. Estes vasos danificados podem extravasar o seu conteúdo ou mesmo ocluir, impedindo a distribuição correta do sangue aos tecidos. Todas estas alterações podem culminar na perda da acuidade visual.

A retinopatia diabética não proliferativa é o estádio inicial da doença e, na maioria dos casos, não dá sintomas. Por isso, é importante observar os doentes diabéticos em consulta de Oftalmologia, com periodicidade anual, mesmo na ausência de sintomas.

O estádio mais avançado da doença, designado de retinopatia diabética proliferativa, acontece quando há aparecimento de novos vasos sanguíneos (neovascularização). Esses novos vasos são frágeis e podem sangrar, produzindo um hemovítreo (sangramento dentro do olho) ou também formar tecido cicatricial que pode levar a um descolamento de retina. Neste estádio avançado, podem aparecer sintomas, como as moscas volantes, a visão turva ou má visão noturna e culminar em cegueira.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico desta entidade é feito numa consulta de Oftalmologia, pela observação do fundo do olho, uma manobra rápida e indolor chamada fundoscopia. Em caso de serem observadas lesões de retinopatia diabética, pode ser necessário fazer alguns exames complementares de diagnóstico.

A tomografia de coerência ótica (OCT) é um exame estrutural que permite estudar as camadas da retina e a angiografia fluoresceínica é um exame funcional que permite estudar a circulação sanguínea da retina. Estes exames são importantes para o auxílio no diagnóstico e monitorização do tratamento.

TRATAMENTO

Mediante o diagnóstico, pode ser necessário iniciar tratamento, que será sempre personalizado. As opções terapêuticas começam pelo tratamento médico da saúde geral. O controlo rigoroso da glicemia e de todos os outros fatores de risco cardiovasculares é um passo determinante no controlo da doença ocular. A abordagem multidisciplinar a estes doentes, com auxílio de outras especialidades médicas, é fundamental.

O tratamento médico ocular pode passar pelos medicamentos antiangiogénicos ou corticoesteroides, sob a forma de injeção ocular.  Estes medicamentos ajudam a reduzir o edema da mácula e a formação de novos vasos sanguíneos, podendo até contribuir para a melhoria da acuidade visual. Na maior parte das vezes, é necessário repetir estes procedimentos para garantir a estabilidade da doença.

O tratamento com LASER é utilizado quando há isquemia da retina – zonas da retina que não recebem um aporte sanguíneo adequado.

O tratamento cirúrgico reserva-se para casos de doença avançada e consiste em realizar uma vitrectomia – remoção de uma substância ocular chamada vítreo – para tratar um sangramento (hemovítreo) ou um descolamento da retina.

A retinopatia diabética é o paradigma da importância da prevenção em Medicina: o doente diabético deve fazer um rastreio oftalmológico periódico, mesmo na ausência de sintomas.

Artigo publicado na edição de novembro 2022 (nº 332)