O programa de rastreios oncológicos será alargado em 2023 ao cancro da próstata, por decisão do Conselho da União Europeia, ao dar luz verde para a orientação e colaboração em toda a União na deteção precoce deste tumor. O arranque, numa primeira fase de projetos-piloto, será dirigido a homens com idades superiores a 50 e 55 anos.

O rastreio é um processo de diagnóstico precoce em pessoas que não apresentam sintomas e, em Portugal, existem já programas para o despiste de outros tipos de cancro, tais como de mama, colorretal e colo do útero. Segundo os dados da Direção-Geral da Saúde (DGS), estes rastreios têm demonstrado uma redução de mortalidade de aproximadamente 30% no cancro da mama, 20% no cancro colorretal e 80% no colo do útero.

Com uma rotina de prevenção e diagnóstico precoce do cancro da próstata, as mortes poderiam ser significativamente reduzidas. O urologista Dr. José Sanches Magalhães, do Instituto de Terapia Focal da Próstata, explica que “o rastreio regular dos homens pode efetivamente reduzir o risco de morte por cancro da próstata metastático mais tarde. Deve ser proposta a hipótese de deteção precoce do cancro da próstata a todos os homens entre os 40 e os 50 anos, especialmente aqueles com familiares diretos com cancro da próstata”.

Existem diversos fatores de risco, sendo a idade o mais relevante. Ainda que a doença se possa manifestar em jovens, o risco aumenta exponencialmente em função da idade do homem. A e o histórico familiar também são cada vez mais pertinentes. É expectável que pessoas com pais ou irmãos afetados pela doença, acabem igualmente por desenvolver cancro da próstata, mais cedo do que a população geral. Existem determinadas mutações genéticas que, se presentes na família, devem motivar vigilância mais atenta. A etnia é um outro fator relevante, sendo a ocorrência do cancro da próstata mais frequente em homens afrodescendentes, apesar das causas dessa incidência não serem ainda totalmente evidentes. Por fim, mas menos importantes, elementos quotidianos como os hábitos alimentares, o consumo de álcool, a exposição ocupacional, o comportamento sexual, a obesidade e a inflamação crónica.

Cerca de 90% de todos os cancros deste tipo são detetados quando o tumor está localizado na próstata ou em torno dela, pelo que as taxas de sucesso do tratamento são elevadas, comparativamente com outros tipos de doença oncológica. Apesar de a maioria destes tipos de cancro ser de evolução lenta ou surgir, muitas vezes, em idade bastante avançada, existem casos em que a doença se manifesta de forma mais agressiva. No entanto, a deteção do cancro da próstata numa fase precoce permite o tratamento, com uma taxa de cura que pode ultrapassar os 95%.

O diagnóstico precoce é essencial e tem contribuído para reduzir significativamente a taxa de mortalidade. “Na maior parte dos casos, o diagnóstico é feito em fases em que se consegue tratar e erradicar a doença”, afirma o Dr. Sanches Magalhães. “Até em casos que progridem e ultrapassam a fase localizada, ou que são diagnosticados em fases avançadas, as possibilidades de tratamento alteraram-se de forma muito significativa em poucos anos. Não obstante, todos os anos falecem cerca de 2000 doentes, só em Portugal”, esclarece. “É um número significativo, dada a elevada frequência da doença, que corresponde a mais de 10% das mortes por doença oncológica”.