Composto por vários órgãos e estruturas, o aparelho digestivo é essencial para a nossa sobrevivência. Sem ele, a vida – e o nosso bem-estar – é impossível. O Mês da Saúde Digestiva visa sensibilizar para a importância de o mantermos saudável. A obesidade e a sua relação com a saúde digestiva é o tema em destaque, este ano.

Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Rui Tato Marinho, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia

 

As doenças do aparelho digestivo (AD) são das causas de morte mais relevantes em Portugal. Das 10 principais patologias, três são do aparelho digestivo. As doenças do AD afetam milhões de portugueses, muitas vezes, de forma silenciosa e traiçoeira.

O dia 29 de maio foi a data escolhida para assinalar, anualmente e em todo o mundo, a importância da saúde digestiva. Trata-se de uma iniciativa da Organização Mundial de Gastrenterologia (World Gastroenterology Organisation – WGO), da qual fazem parte mais de uma centena de sociedades científicas e para cima de 50 mil membros individuais.

O Dia Mundial da Saúde Digestiva foca-se todos os anos numa doença ou perturbação digestiva, visando chamar a atenção do público em geral e dos profissionais de saúde para a sua prevenção, frequência, diagnóstico, rastreio, tratamento e cura. Este ano, o tema escolhido foi “Obesidade e Saúde Digestiva”.

RISCO DE CANCRO

Com a escolha deste tema, pretende-se promover a consciencialização para aquela que é considerada a pandemia do século XXI, mais letal, inclusive, do que a covid-19: a obesidade.

A campanha que agora se inicia, designada Mês da Saúde Digestiva – e que decorre até ao final de junho – visa despertar a atenção para o facto de a obesidade ser uma situação pré-oncológicam, isto é, uma doença com um potencial muito elevado de vir a desenvolver cancro digestivo. É igualmente uma doença “global”, doença física, mental, familiar e social, com elevado impacto na sociedade geral e na economia mundial.

Além de encurtar a esperança média de vida, a obesidade é um fator de risco para várias doenças graves do aparelho digestivo. Aqui, incluem-se desde a doença de refluxo gastroesofágico e obstipação à doença do fígado e cancros como o do esófago, cólon e reto, pâncreas e fígado, entre muitas outras.

Números que não podemos ignorar

Sabia que, na União Europeia, mais de 50% da população adulta tem excesso de peso ou é obesa? Que quase 75% dos doentes obesos têm doença hepática gordurosa não alcoólica (fígado gordo), o que implica o aumento significativo de doença hepática avançada, de cancro de fígado e de necessidade de transplante de fígado? Ou que os problemas relacionados com a obesidade representam despesas de mais de 81 mil milhões de euros para as economias europeias? É um monstro económico.

São números que não podemos ignorar e que estão na base desta campanha, através da qual se pretende partilhar com gastrenterologistas, cirurgiões, endocrinologistas, médicos de família, enfermagem, farmacêuticos, nutricionistas, doentes e público em geral os conhecimentos mais recentes relativamente à patogénese, investigação, prevenção e tratamento da obesidade, uma das principais causas do desenvolvimento de doenças digestivas crónicas e também responsável pelo aumento do risco da mortalidade global.

Por outras palavras, pretende-se promover a comunicação entre todos os envolvidos, dos médicos e outros profissionais de saúde aos pagadores dos cuidados de saúde e demais população, para em conjunto encontrar respostas e adotar soluções para um problema de saúde pública que, neste caso específico, pode ser prevenido, mas que se tem vindo a agudizar na última década.

AUMENTAR A LITERACIA

Aumentar a literacia dos portugueses em saúde digestiva traduz-se, a médio e longo prazo, em melhorias de saúde pública e viver mais anos com qualidade de vida. Espera-se que esta consciencialização contínua, ao longo dos anos, leve ao aumento de conhecimentos e literacia sobre o aparelho digestivo e a uma maior preocupação com as questões de saúde digestiva.

O objetivo permanente é consciencializar a população para a importância da adoção de hábitos mais saudáveis, entre os quais se incluem uma dieta equilibrada, a prática regular de atividade física e consultas regulares com o gastrenterologista, não apenas quando há sintomas ou sinais de desconforto, até porque as queixas relativas ao tubo digestivo são muito frequentes e uma das principais razões para o consumo de medicação não prescrita por um médico.

Deseja-se, acima de tudo, fomentar a prevenção e deteção precoce de eventuais problemas de saúde do foro gastrintestinal, para permitir o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Esta é a forma mais eficaz de reduzir a mortalidade e, simultaneamente, promover a saúde digestiva num país como Portugal, onde o número de doenças digestivas está a aumentar, mais de 60% da população tem problemas digestivos. O cancro digestivo mata uma pessoa por hora em Portugal

No nosso país, o Dia e o Mês da Saúde Digestiva são uma iniciativa de responsabilidade social da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), em parceria com várias empresas que se lhe associaram em áreas tão variadas como as novas tecnologias, media, desporto, alimentação ou energia, através da divulgação de ferramentas e conteúdos para apoiar a iniciativa e promover a saúde digestiva e o bem-estar dos portugueses.

Leia o artigo completo na edição de junho 2021 (nº 317)