Os dados mais recentes são assustadores: quase 60% da população portuguesa tem obesidade ou pré-obesidade. A doença atingiu proporções epidémicas e está associada ao desenvolvimento prematuro de uma série de patologias, incluindo certos tipos de cancros, e a uma mortalidade elevada.

 

Artigo da responsabilidade da Profª Paula Freitas, Endocrinologista no Centro Hospitalar São João; professora da Faculdade de Medicina do Porto; presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade

 

A obesidade é uma doença crónica, complexa e multifatorial. Várias teorias foram invocadas para explicar o seu aumento ao longo das décadas, desde alterações no microbioma intestinal, disruptores endócrinos no ambiente e na cadeia alimentar, polimorfismos genéticos, entre outros. No entanto, os grandes promotores da obesidade, na sociedade atual, são o estilo de vida moderno, associado a um aumento do consumo e diminuição do dispêndio energético. A disponibilidade alimentar é uma constante e as tecnologias no trabalho, na diversão e na ocupação de tempos livres estão associadas ao sedentarismo.

É verdade que cerca de 90 a 95% da etiologia da obesidade está relacionada com fatores externos (estilo de vida – sedentarismo, inatividade física e má prática alimentar), mas é de notar que cerca de 5 a 10% das causas de obesidade são doenças endócrinas tratáveis, e, menos frequentemente, causas genéticas.  Há ainda que considerar a influência dos fatores psicológicos, socioeconómicos, aspetos de urbanização, sistema de transportes, aspetos culturais, indústria alimentar, meios de comunicação social e publicidade na prevalência da obesidade.

ESTUDO CONFIRMA AUMENTO

Infelizmente, a prevalência da obesidade tem vindo a aumentar em Portugal e no mundo. Os dados mais recentes da prevalência de obesidade em Portugal foram apresentados no 21º Congresso Português de Obesidade, da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade. O estudo foi apresentado pela Dra. Andreia Oliveira, do Instituto de Saúde Pública, e contou com a participação da Unidade de Epidemiologia, do Instituto de Saúde Pública da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, pertencentes à Universidade do Porto.

O estudo envolveu 6553 participantes, dos 3 meses aos 84 anos, e decorreu de 2015 a 2016. E os resultados foram que a prevalência nacional de obesidade é de 22,3 %, superior à anteriormente divulgada pelo Eurostat, em outubro de 2016 e relativa a 2014, e referente a uma população adulta com mais de 18 anos, em que esta prevalência era de 16,6% (sendo 15,3% nos homens e 17,8% nas mulheres).

Também neste estudo, a prevalência de obesidade era mais elevada nas mulheres, aumentava com a idade e com o menor nível educacional. A prevalência da pré-obesidade a nível nacional era de 34,8%, mais elevada nos homens; e quase 18% das crianças e 24% dos adolescentes tinham pré-obesidade.

Leia o artigo completo na edição de janeiro 2018 (nº 279)