A doença é sempre algo que nos assusta. Quando falamos de cancro, a angústia é ainda maior porque não conseguimos ainda dissociar cancro e morte. Mas, a Medicina está hoje dotada de ferramentas que permitem tratar e curar diversos tipos de cancro. Mais do que isso: graças à Medicina, as mulheres não precisam abandonar o sonho da maternidade.

Sim, é possível ser mãe depois do cancro. Esta é a mensagem de esperança que gostaria de deixar a todas as mulheres, em particular quando estamos a assinalar mais um Outubro Rosa, mês dedicado à prevenção e diagnóstico precoce do cancro de mama.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Catarina Godinho, ginecologista do IVI Lisboa e especialista em Medicina da Reprodução

 

 

O cancro de mama é o tumor mais frequente na população feminina. Pode afetar uma em cada oito mulheres. No entanto, todos os anos há novos tratamentos disponíveis que permitem aumentar a taxa de sobrevivência. Quando diagnosticado precocemente, tem geralmente um bom prognóstico.

Fazer planos para o futuro e não abdicar dos sonhos projetados, incluindo os da maternidade, devem fazer parte do processo de tratamento. Todas as mulheres que enfrentam esta batalha pela vida merecem ser informadas sobre a possibilidade que têm de preservar o seu potencial reprodutivo e ter a firme esperança de serem mães no futuro.

Como sabemos, o tecido ovárico contém um número limitado de folículos, que diminui ao longo da vida. A radioterapia e a quimioterapia aceleram a diminuição natural do número de folículos e, quando o cancro atinge mulheres em idade fértil, o sonho da maternidade pode ficar comprometido.

Foi a pensar nestas mulheres, e também nos homens, que, em 2007, o IVI lançou o programa “Ser Mãe depois do Cancro” e “Ser Pai depois do Cancro”. Queríamos dar a estas mulheres jovens e homens, que tinham uma luta pela frente, um sinal de esperança e um objetivo a que se pudessem agarrar. Desde então, mais de 1.400 mulheres com diagnóstico de cancro vitrificaram os seus ovócitos antes de se submeterem a um tratamento de quimioterapia ou radioterapia, o que poderia prejudicar a sua fertilidade. Garantir a possibilidade de serem mães também acaba por lhes dar força e coragem para enfrentar e vencer a batalha do cancro. Ao abrigo deste programa já nasceram 59 bebés e muitos outros são aguardados.

Estas mulheres são um exemplo de perseverança e para nós, médicos e investigadores, é muito gratificante. Por isso, todos os dias colocamos o nosso conhecimento e experiência à disposição, para que estas mulheres se possam concentrar no que realmente importa no curto prazo: lutar pela vida. Depois, cabe-nos a nós ajudar a concretizar o sonho da maternidade. Há cerca de década e meia pouco podíamos fazer por estas mulheres, mas graças à vitrificação de ovócitos, abriu-se um amplo leque de indicações no campo reprodutivo.