A ablação da fibrilhação auricular é uma técnica que tem vindo a crescer de forma consistente, para a qual a cardiologia portuguesa tem dado o seu justo contributo. Recentemente, alguns centros têm aplicado uma técnica complementar, designada por cardioneuromodulação.

 

Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Mário Martins Oliveira. Cardiologista no Hospital CUF Tejo e Hospital CUF Porto

 

A fibrilhação auricular (FA) é a arritmia mais comum na prática clínica, afetando cerca de 2% da população geral e 5% acima dos 65 anos de idade, com impacto desfavorável na qualidade de vida, na saúde e na mortalidade.

Esta arritmia tem um peso epidemiológico muito importante, que tende a aumentar com o envelhecimento. Na verdade, representa um dos problemas de saúde pública mais relevantes, já que é responsável por parte significativa de hospitalizações, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, demência e mortalidade.

SINAIS DE ALERTA

Os amplos benefícios resultantes da terapêutica atual da fibrilhação auricular justificam o rastreio desta arritmia, particularmente em grupos onde o risco da sua ocorrência é maior e com mais consequências para a saúde, como os idosos e aqueles com doença cardiovascular conhecida.

Por isso, sinais de alerta como “batidas do coração muito rápidas e descontroladas”, sobretudo se associadas a cansaço acentuado, falta de ar, tonturas ou desmaio e dor no peito, justificam que procure ajuda junto do seu médico assistente.

O tratamento assenta em pilares como a prevenção das embolias, com anticoagulantes que são bastante eficazes, o controlo da frequência cardíaca, com medicamentos para evitar aceleração cardíaca exagerada, o tratamento adequado das doenças associadas que possam contribuir para o aparecimento e manutenção da FA e, claro, estratégias para tentar preservar o ritmo cardíaco normal.

TERAPÊUTICA ATUAL

Os fármacos antiarrítmicos e a intervenção feita por cateteres (com acesso ao coração através de veia na região da virilha), designada por ablação da arritmia, fazem parte da terapêutica instituída.

No que se refere aos antiarrítmicos, a eficácia é mais limitada, e a associação com efeitos adversos pode comprometer a sua utilização sistemática. Por seu lado, a ablação da FA, graças aos avanços verificados na compreensão dos mecanismos da arritmia, aos sistemas de mapeamento tridimensional do coração e às novas tecnologias disponíveis nos cateteres usados para o tratamento, têm permitido alcançar benefícios muito significativos na melhoria destes doentes.

CARDIONEUROMODULAÇÃO

A ablação da fibrilação auricular é uma técnica que tem vindo a crescer de forma consistente e que, entre nós, já ultrapassou os 1600 procedimentos por ano. Podemos dizer que a Cardiologia portuguesa tem contribuído para o desenvolvimento deste tratamento, com 20 anos de experiência e vários hospitais a realizar este procedimento, usando diferentes tipos de energia, com taxas de sucesso que chegam aos 80-85% no primeiro ano após tratamento.

Recentemente, alguns Centros têm usado em doentes selecionados uma técnica complementar, designada por cardioneuromodulação, que compreende a ablação de zonas das aurículas onde há grande densidade de inervação cardíaca.

Uma vez que se sabe que reflexos do sistema nervoso autónomo podem estar associados a uma boa parte dos episódios espontâneos de FA, este método pode vir a contribuir para a diminuição da chamada carga arrítmica. Os estudos iniciais são muito prometedores e, por isso, devemos apostar no melhor conhecimento das vantagens da sua aplicação.

Leia o artigo completo na edição de junho 2022 (nº 328)