A propósito da Semana Mundial da Continência, que este ano se assinala entre 20 e 26 de junho, o Movimento pela Continência e Disfunção Pélvica alerta para o facto de as perdas de urina, gases e fezes não serem normais. Sob o mote #ToiletTalkNow, o objetivo da campanha, que está a ser realizada em conjunto com o Grupo Renascença e conta com o apoio da Medtronic, passa por dar visibilidade aos problemas associados à continência e disfunção do pavimento pélvico, qualquer que seja a sua etiologia.

“Estas patologias têm consequências absolutamente devastadoras para a vida dos afetados. Aliado a isto está ainda o facto de muitas das vezes estes não pedirem ajuda por vergonha”, alerta Joana Oliveira, presidente do Movimento pela Continência e Disfunção Pélvica, acrescentando: “É crucial alertar para o facto de não ser normal perder a capacidade de controlar o pavimento pélvico. Estes são problemas que têm cura, mas é crucial procurar ajuda o mais precocemente possível de forma a ser adotado o tratamento mais adequado”.

Como tal, o movimento alerta ainda para o facto de estes não serem problemas que afetam apenas as pessoas mais velhas, ainda que, tendo em conta o aumento da esperança média de vida, a sua incidência e prevalência apenas terão tendência a aumentar.

Em todo o mundo, mais de 400 milhões de pessoas são afetadas por algum tipo de incontinência, sendo que as perturbações urinárias são as mais frequentes. Segundo a Associação Portuguesa de Urologia, estima-se que só a incontinência urinária afete 600 mil pessoas nas várias faixas etárias em Portugal. O sexo feminino, entre os 45 e 65 anos, é o mais afetado por este tipo de incontinência em específico, sendo que a proporção de casos de IU é de 3 mulheres para cada homem.

“Ainda que menos falada, sendo talvez a patologia mais envolta em tabus deste leque, a incontinência fecal, emissão involuntária de gases ou fezes devido a incapacidade do esfíncter anal, é mais comum do que aquilo que se pensa. Apesar de não existirem dados concretos sobre a sua incidência, estima-se que afete até 10% da população adulta”, acrescenta Joana Oliveira.

As disfunções do pavimento pélvico representam situações absolutamente devastadoras que continuam a ser sofridas em silêncio, devido à enorme vergonha e humilhação de quem sofre deste problema. Desde faltas ao trabalho, a compromissos pessoais, familiares ou sociais, estes são problemas que podem destruir carreiras e a vida conjugal e íntima, levando inclusivamente ao isolamento e a problemas psicológicos graves. No entanto, a incontinência urinária, por exemplo, tem possibilidade de tratamento em 85% dos casos, sendo crucial o diagnóstico precoce.

Existem vários tipos de tratamento, como o farmacológico, o cirúrgico e a reeducação pélvica, que possibilitam um regresso à normalidade para quem sofre destas patologias.

Os tratamentos conservadores devem estar presentes em todas as fases da doença, mas quando estes falham a esperança não está perdida. A estimulação dos nervos sagrados (neuromodulação) é uma opção. Esta técnica cirúrgica minimamente invasiva muda completamente a vida destes doentes, tendo um impacto muito significativo na melhoria da qualidade desta.

O procedimento consiste na implantação do neuroestimulador mais pequeno que existe, com apenas 3 centímetros. É implantável, rapidamente recarregável e tem uma vida útil de 15 anos. Além disto, permite controlar a bexiga e os intestinos através de aplicações no telemóvel que facilitam a gestão por parte do doente das respetivas experiências de forma fácil em qualquer lugar. Em causa estão pessoas que deixam de trabalhar ou ter vida social ativa e conseguem, após o tratamento, retomar uma vida normal. Além disso, estas intervenções têm a vantagem de poder ser realizadas em regime ambulatório, sem necessidade de internamento.

Criar visibilidade para os problemas associados à continência e disfunção do pavimento pélvico, encorajando o debate público e aberto e a quebra de estigma e tabus associados a estas doenças são assim os principais objetivos do Movimento pela Continência e Disfunção Pélvica, que se estreou este ano nas plataformas online, de forma a chegar a mais doentes. Pretende ainda ser a voz dos doentes e ser ouvido pela sociedade e pelos poderes políticos, incentivando ainda à alteração da lei de incapacidade.