Várias circunstâncias podem originar a dor lombar, mas algumas patologias são mais significativas do ponto de vista qualitativo e quantitativo. A hérnia discal é uma delas. A patologia costuma surgir a partir dos 40 anos, mas uma razoável percentagem de pessoas é afetada mais cedo.

 

Na coluna vertebral, existem umas estruturas, os discos vertebrais, que atuam como amortecedores entre cada par de vértebras. Graças a eles, o movimento reparte-se de forma equilibrada e harmónica entre os diferentes níveis da coluna.

Cada disco, em si, é composto por duas partes: o núcleo polposo, que atua na zona central e que possui um elevado conteúdo de água; e o anel fibroso que recobre o núcleo e que é formado por lâminas dispostas em diferentes ângulos, facilitando assim a transmissão das pressões.

Danos do tempo

A partir dos 30 anos, começam a produzir-se mudanças degenerativas nos discos, que se desidratam, perdendo elasticidade, resistência e capacidade para suportar as tensões. Consequentemente, pode acontecer que algum – ou alguns – desses discos se desloque e, inclusive, se rompa uma parte do anel fibroso. Esse deslocamento ou rutura é conhecido por hérnia discal.

Quando a parte deslocada do disco pressiona um nervo, podem produzir-se dores, tanto nas costas como numa perna, se se tratar de um disco lombar, ou num braço, tratando-se de um disco cervical. Esta patologia, que também pode ocorrer na sequência de uma queda ou traumatismo, é muito frequente a partir dos 40 anos de idade.

A maior ou menor predisposição para sofrer de hérnias discais deve-se a causas genéticas, tal como ficou demonstrado numa investigação levada a cabo por cientistas do Laboratório de Doenças Articulares e Ósseas de Tóquio, no Japão. De acordo com este estudo, é a presença de uma determinada proteína – a CILP – no núcleo polposo que altera o correto desenvolvimento dos discos intervertebrais e impede a respetiva regeneração.

Dores e outros sintomas

O sintoma mais característico da hérnia discal é a dor intensa, intermitente ou contínua, que costuma piorar com o movimento ou ao tossir, espirrar, conduzir ou permanecer de pé durante longos períodos de tempo. No entanto, esta dor não é igual em todos os pacientes nem se reveste da mesma intensidade em todos os casos.

Podem, igualmente, produzir-se espasmos nos músculos das costas, fraqueza muscular nas pernas, dor ciática, formigueiros nas extremidades, diminuição dos reflexos nos joelhos e tornozelos e, inclusivamente, alterações no funcionamento da bexiga ou do intestino.

O melhor diagnóstico

Os especialistas asseguram que é muito difícil determinar, mediante uma simples exploração, se alguém padece de hérnia discal. Esta costuma detetar-se de forma mais ou menos acidental, quando o paciente se submete a uma ressonância magnética por qualquer outra razão. É esta técnica de diagnóstico que permite determinar com precisão se algum disco está desidratado e de que forma isso pode influenciar a coluna vertebral. É, também, fundamental efetuar a história clínica e uma exploração física do paciente.

No caso dos sintomas persistirem, pode ser necessária a intervenção de um especialista em reabilitação. Se a hérnia se agravar, o respetivo tratamento passa para a especialidade de Neurocirurgia.

Tratamento simples e eficaz

O tratamento da hérnia discal varia em função de critérios como a idade, o estado geral de saúde e a história clínica do doente, o tipo de hérnia e o grau de deterioração do disco, a tolerância a determinados medicamentos e o prognóstico da patologia.

Em primeiro lugar, deve optar-se por uma linha de tratamento conservadora, baseada na prescrição de fármacos analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares. Também se recomenda repouso total, – habitualmente de dois dias – e a aplicação de calor local.

Outras técnicas a que se recorre são a eletroterapia – correntes analgésicas –, a termoterapia – aplicação de calor superficial ou profundo –, infiltrações na zona a desinflamar e radiofrequência.

Estima-se que, com a aplicação deste tipo de terapias, aproximadamente 95% dos pacientes tratados melhoram.

Pode prevenir-se?

Embora a hérnia discal seja uma doença diretamente relacionada com o processo de envelhecimento natural do corpo humano, podem adotar-se algumas medidas, sobretudo de higiene postural, destinadas a preservar o bom estado da coluna e dos discos intervertebrais, em particular. Eis algumas dessas medidas:

  • São recomendados todos gestos e posturas que corrijam o perfil da coluna vertebral e reduzam a pressão suportada por cada disco individualmente. Neste sentido, exercícios físicos de alongamento podem resultar especialmente efetivos.
  • Há que efetuar atividades que permitam aliviar as curvas acentuadas da coluna, diretamente relacionadas com o aparecimento de hérnias.
  • Há que ter cuidado com a postura que se adota ao sentar, sobretudo quando se vai permanecer assim durante um longo período de tempo.
  • Outra medida muito recomendável é pôr-se, de vez em quando, nas mãos de um bom fisioterapeuta. Este especialista ajuda a melhorar a postura do paciente, sobretudo tonificando a musculatura abdominal do tronco e a lombar.
  • Durante a fase em que se sofre a hérnia discal ou na fase posterior, é muito importante evitar todos os desportos ou atividades físicas que potenciem o traumatismo da zona e que pressuponham um perigo para a integridade do disco.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2021 (nº 319)