Acaba de ser lançado, pelo grupo de medicina reprodutiva IVI, o Guia Prático “Mamãs2“, com toda a informação sobre o processo de maternidade, desde a preparação emocional para a decisão até ao processo médico relativo às escolhas das técnicas de procriação medicamente assistida mais indicadas para cada caso.

Leia AQUI na íntegra o Guia Prático “Mamãs2

O objetivo do IVI é transformar as inseguranças e dúvidas destas mulheres em certezas e ajudá-las a ultrapassar eventuais preconceitos, bem como apoiá-las nos desafios. “Este guia é para todos os casais de mulheres que se querem informar e preparar para o processo de gravidez e maternidade a duas. Esperamos que seja uma ajuda para as mulheres que se amam e que se atrevem a dar este passo”, explica a Dra. Filipa Santos, psicóloga do IVI Lisboa.

Quando existe o sonho da maternidade, dar o primeiro passo é já um sinal de grande coragem, mas isso não significa que estas mulheres não tenham as suas inseguranças, aliás naturalmente comuns a todos os casais. Porém, estas mães enfrentam desafios acrescidos, por isso, com toda a confiança, assumimos que este guia é para mulheres corajosas, livres e determinadas, dispostas a colocar o seu desejo de dar vida à frente de tudo”, sublinha.

O casamento civil entre duas pessoas do mesmo sexo foi aprovado em Portugal em 2010. Seis anos depois, foi alargada a lei da procriação medicamente assistida (PMA) a todas as mulheres independentemente do estado civil, orientação sexual e diagnóstico de infertilidade. “Felizmente, vivemos numa sociedade cada vez mais aberta, com políticas e legislação progressivamente menos discriminatórias. Ainda assim, entendemos que temos um papel fundamental e a responsabilidade de apoiar e desmistificar este caminho e por isso surgiu a necessidade de elaborar este guia”, refere a Dra. Filipa Santos.

A história de Márcia, com algumas desilusões e um final feliz

Quando Márcia Lima Soares, professora, de 39 anos, iniciou os tratamentos para tentar engravidar, a procriação medicamente assistida em Portugal ainda estava reservada a casais heterossexuais. Em 2014, a Márcia foi a Espanha, onde tentou
concretizar o seu sonho, mas infelizmente não teve sucesso. Em 2016, com o alargamento da PMA aprovado em Portugal, deu continuidade aos tratamentos e, após algumas tentativas falhadas, finalmente conseguiu engravidar. A Márcia é hoje mãe de uma menina com pouco mais de um ano.

Márcia Lima Soares reconhece que as mudanças legislativas fizeram toda a diferença, mas admite que ainda é preciso percorrer um longo caminho. “É muito difícil uma mulher ou casal de mulheres obter uma ajuda efetiva por parte do SNS, pois faltam infraestruturas, recursos humanos, doações de gâmetas suficientes para a procura existente e outros meios que facilitem e encurtem o processo”.  Acrescenta que, por isso, muitas famílias continuam a procurar a ajuda de clínicas privadas que, no geral, funcionam muito bem, apesar de nem todas as pessoas terem condições financeiras para avançar. “É necessário continuar a alertar a opinião pública para esta situação e para a necessidade de garantir que todas as pessoas têm acesso a serviços de qualidade”, afirma.

O amor é um pilar mais importante do que o modelo de família

Diversos estudos comprovam que as crianças que crescem numa família com duas mães não apresentam mais risco, nem para alterações emocionais nem comportamentais, comparativamente com os seus pares, criados em famílias
heterossexuais. Ou seja, um desenvolvimento saudável não depende da orientação sexual dos pais, mas sim da qualidade da relação entre pais e filhos.

Para a Dra Filipa Santos, o amor é um pilar mais importante do que o modelo de família. Contudo, este é um aspeto que suscita muitas inseguranças para estas mães, antes e após a gravidez”, refere. “Não podemos ignorar o facto de que vão viver numa sociedade em que ainda existem pessoas que são preconceituosas em relação à homossexualidade e à homoparentalidade. Será importante que estejam preparadas para isso e que saibam como responder”. explica a especialista. Daí que o apoio emocional esteja também integrado no guia prático e que faça parte do apoio especializado que é prestado às mulheres quer recorrem a técnicas de PMA.

Num casal de mulheres, a decisão de ter um filho implica também outras decisões, que por vezes ao longo do processo têm de se reajustadas. Qual das duas vai engravidar? Qual a técnica mais adequada? Existem várias possibilidades.

Preparar as mulheres para perguntas e comentários

Para além das pessoas de confiança nas quais o casal decida apoiar-se, é importante ter em conta o círculo social mais amplo com o qual a nova família também irá interagir. E especialmente neste âmbito, segundo a psicóloga, é importante estarem preparadas para todo o tipo de perguntas ou comentários, quer sobre a orientação sexual, quer sobre a maternidade.

“É comum perguntar se sobre qual será a melhor forma de falar com o filho ou filha sobre como se constituiu a sua família. Inclusive quando desde o início se tem a certeza em fazê-lo, é comum perguntar se quando e como começar a falar sobre o assunto. A ideia é sempre acompanhar a criança na sua curiosidade natural e na sua capacidade de entender o mundo que a rodeia, de uma forma aberta, transparente e natural. Abrir possibilidades, apresentar o mundo às crianças na sua diversidade e com respeito é o que todos podemos fazer. É uma narrativa que se constrói naturalmente à medida que a criança cresce. É importante explicarmos às crianças que a reprodução humana pode acontecer de diversas formas, isso vai prepará-las para os desafios que possam surgir no futuro em relação a esse tema”, garante a Dra. Filipa Santos.

Márcia Lima Soares, por exemplo, escreveu o livro infantil “A Ervilha Congelada”, onde parte das suas próprias experiências e memórias para transportar os mais novos ao mundo de um laboratório de fertilização in vitro cheio de pequenas ervilhas ansiosas por nascer e receber o amor de uma família que as deseja há muito, independentemente do seu formato. Numa história cheia de
aventuras e de personagens muito diferentes, explica de forma muito simples como algumas nascem. Uma história que espera um dia contar à sua filha.