Sensibilizar a população para os problemas que as pessoas com epilepsia enfrentam no dia a dia, desmistificar os tabus sociais e perceber a importância do tratamento farmacológico no seu controlo e na obtenção de um estilo de vida normal e saudável, são os grandes temas de reflexão e análise atuais.

Conhecida como uma das doenças neurológicas mais comuns em todo o mundo – conjuntamente com a patologia vascular cerebral, as demências e as cefaleias – a epilepsia ainda é vista com algum misticismo pela sociedade, o que torna urgente um esclarecimento sobre a patologia, tendo em vista a eliminação de tabus que ainda persistem e a minimização da sua discriminação social.

A epilepsia não deve ser interpretada como sendo “sinal de pouca inteligência”, o que muitas vezes acontece. Sabe-se que nomes conhecidos da história mundial, como Alexandre o Grande, Pascal, Maomé, Sócrates, Molière ou Júlio César, sofriam de epilepsia e nem por isso deixaram de sobressair pela sua inteligência e capacidade cognitiva nas diversas áreas onde foram distinguidos.

A nível mundial, existem cerca de 50 milhões de pessoas com epilepsia, sendo que 85% deste total é proveniente dos países em vias de desenvolvimento. Em Portugal, estima-se que 50 mil pessoas sejam portadoras da doença, registando-se a existência de 50 novos casos em cada 100 mil habitantes por ano.

O que é, afinal, a epilepsia?

A epilepsia é uma disfunção do sistema nervoso, que pode afetar pessoas de qualquer idade, sexo, raça, estatuto social ou nacionalidade, mas é mais comum até aos 25 anos de idade e depois dos 65 anos.

Enquanto doença do foro neurológico, caracteriza-se pela recorrência de crises epiléticas não provocadas. O diagnóstico da epilepsia existe quando se verificam crises repetidas – por vezes, designadas acessos ou ataques –, durante um determinado período da vida.

As crises epiléticas são a expressão clínica – convulsões, espasmos agudos, alterações estereotipadas e súbitas no comportamento – de descargas elétricas cerebrais não reguladas, que são resultado direto de uma atividade elétrica anormal no cérebro.

As células cerebrais trabalham em conjunto, comunicando através de sinais elétricos; ocasionalmente, pode dar-se um “curto-circuito” no cérebro e parte ou mesmo a totalidade das células descarregam anormalmente, provocando, assim, um ataque epilético. Estes ataques podem durar entre alguns segundos e alguns minutos e, normalmente, são espontâneos e não controlados.

As convulsões não constituem, por si só, a doença, mas podem ser indicadoras de uma doença como a epilepsia. Qualquer pessoa poderá ter convulsões, devido, por exemplo, a choque elétrico, défice de oxigénio, traumatismo craniano, hipoglicemia – valores baixos de açúcar no sangue –, privação de álcool ou utilização de substâncias de abuso. Uma em cada 20 pessoas tem uma única crise isolada durante a sua vida.

As crianças pequenas podem ter convulsões quando apresentam febre: as chamadas convulsões febris, que não são sinónimo de epilepsia. Uma crise isolada também não é sinónimo de epilepsia. Este termo apenas se emprega quando as crises são espontaneamente recorrentes, ao longo do tempo.

Leia o artigo completo na edição de junho 2019 (nº 295)