Todas nós temos uma imagem idílica, mais ou menos elaborada, de como seria o nosso par ideal. No entanto, o verdadeiro príncipe encantado raramente chega montado num cavalo branco, para dizer que nos deseja…

 

Seguramente que qualquer uma de nós já se sentiu, alguma vez, protagonista de um filme romântico, daqueles em que os sentimentos transbordam do ecrã, são de uma pureza extrema e estão sempre para além da razão. Essas fantasias levam-nos, com frequência, a formar uma série de pré-conceções sobre em que consiste o verdadeiro amor e o que é suposto fazer em seu nome.

Primeiros passos

Ao iniciar uma relação, tendemos a ver a outra pessoa como a encarnação desse ideal romântico: o nosso príncipe encantado. O mais comum é que apenas sejamos recetivos àquilo que gostamos nele. Mas este sentimento tem associada uma certa ansiedade: “se o perco, nunca encontrarei ninguém assim…”.

Quando nos enamoramos, esquecemos parte da nossa vida quotidiana. Deixamos de ter tempo para os nossos amigos, esquecemos as datas dos aniversários dos nossos pais e perdemos a noção daquilo que gastamos em prendas, jantares e chamadas telefónicas para o objeto do nosso amor. O nosso pensamento tende para a exclusividade, para a obsessão… Se esta ordem de coisas durasse indefinidamente, a nossa vida desorganizar-se-ia irremediavelmente e cairia a pique….

Felizmente, chega um momento da relação em que recuperamos o equilíbrio. Em primeiro lugar, porque nos tranquiliza verificar que os nossos sentimentos para com a outra pessoa são correspondidos. E, em segundo, porque começamos a vê-la como ela realmente é: com as suas fantásticas virtudes e os seus inevitáveis defeitos.

A rotina do casal

Muitas pessoas reconhecem que os seus sentimentos em relação ao parceiro mudam quando se casam ou decidem viver juntos. Simplesmente, porque a rotina dá-nos por garantido aquilo que a outra pessoa sente por nós, pelo que não sentimos a necessidade de exteriorizar os sentimentos como antes.

Este processo é mais fácil de entender quando o comparamos com o que se passa com a amizade. Certamente que não temos tantas atenções com os amigos antigos – podemos passar meses sem lhes dar um telefonema – do que com aqueles cuja amizade queremos conseguir ou consolidar. Em certa medida, é “normal” que haja um certo abandono dos antigos amigos, em favor dos novos. O que esquecemos é que a amizade, por mais forte que seja, também morre, quando não é cultivada.

O mesmo se passa com as relações conjugais. Embora não seja são nem razoável passar o tempo a fazer “loucuras” para demonstrar o nosso amor, devemos recordar que este vínculo sentimental é como uma planta, que tem de ser regada com regularidade, para que não morra. A acomodação pode levar-nos a não o fazer, mas devemos estar conscientes da erosão imparável que ocorre com os sentimentos, quando não são devidamente atendidos.

Leia o artigo completo na edição de janeiro 2017 (nº 268)