Há vários tipos de dores de cabeça, também chamadas cefaleias, e algumas podem estar relacionadas com distúrbios hormonais, pelo que devemos estar conscientes destas situações

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Ivone Mirpuri, Médica Patologista Clínica; Especialista em Medicina Antienvelhecimento, pela World Society of Anti-Aging Medicine; Especialista em Hormonologia, pela International Hormone Society; Certificação em Medicina Antienvelhecimento, pelo Cenegenics,  Nevada University, USA

 

O cérebro em si não tem recetores para a dor. Os recetores encontram-se nos vasos sanguíneos – que podem dilatar-se ou contrair-se –, nos músculos do pescoço e da cabeça – que podem ficar “tensos” –, nas articulações da mandíbula e do pescoço – que podem estar danificadas –, nos nervos que transmitem os sinais de dor – nervos cranianos e espinhais –, nos dentes – que podem estar estragados –, nos seios perinasais – que podem ficar tumefactos devido a alergias, resfriados ou infeções –, nos músculos à volta dos olhos – que podem ficar tensos por sobrecarga de trabalho e dificuldades da visão ao perto–, e nas meninges – que podem sofrer trações ou irritações.

A maioria das dores de cabeça são provocadas por contrações musculares ou problemas de fluxo sanguíneo.

CEFALEIAS HORMONAIS

Falemos mais detalhadamente das cefaleias hormonais e de como se corrigem, tendo em conta os fatores que são possíveis causadores destas dores de cabeça.

BAIXA DA FUNÇÃO TIROIDEIA – São cefaleias matinais, que aparecem “do nada”, em repouso. O tratamento com hormona tiroideia diminui a frequência e a severidade, sendo que frequentemente assistimos à abolição total da dor de cabeça. Recordo que a prevalência do hipotiroidismo, se tivermos em conta os critérios clínicos, é de cerca de 85% na população adulta, na maioria das vezes não diagnosticado – por critérios analíticos, a prevalência desce para menos de 10% da população adulta. Reconhecer os sinais clássicos e mais típicos do hipotiroidismo é essencial – mãos frias, pés frios, obstipação, tendência depressiva e para engordar, dor e rigidez matinal das articulações, acordar com o rosto e os olhos inchados, falta de memória e de concentração, entre outros.

BAIXA DE ESTROGÉNIOS – São as cefaleias típicas do período menstrual. A cefaleia vascular, tipo enxaqueca, começa em 33% dos casos na altura da menarca (1ª menstruação), sendo também mais frequente neste sexo (18% no sexo feminino e 6% no sexo masculino, em média dos estudos). A cefaleia que aparece no período menstrual é devida à baixa das hormonas sexuais que se verifica neste período. Algumas mulheres com enxaqueca apenas a referem neste período. Não é uma questão de os estrogénios estarem altos, como na gravidez, ou baixos, como na menopausa, mas sim a baixa repentina do estrogénio nesta altura.

O tratamento ideal seria a supressão da atividade cíclica do ovário com implante de estradiol e descamação periódica do útero, dando progesterona cíclica. Desta forma, mantendo um nível constante de estradiol, suprimimos a variação cíclica que desencadeia a enxaqueca.

CEFALEIAS PRÉ-MENSTRUAIS – Estão associadas à baixa de progesterona que se verifica em muitas mulheres neste período. São, por isso, acompanhadas pelos sintomas típicos da tensão pré-menstrual, também esta devida à baixa de progesterona: tensão mamária, irritabilidade, dores abdominais, mais emocionais e sensíveis, mais apetite para doces, dificuldades no sono e má digestão, estão entre os sintomas frequentes.

A correção com progesterona bioidêntica deve ser efetuada, não só para alívio dos sintomas incomodativos, mas para prevenção de doença mamária e uterina (nódulos e quistos) derivados da dominância estrogénica em que estas mulheres se encontram. O estradiol provoca retenção hídrica e a cefaleia aparece, pois ela é derivada do edema (acumulação de líquido) cerebral. Diuréticos ou pílulas com progestagénios antimineralocorticoides (4ª geração) podem resultar, mas repito: dar a pílula pode resolver os sintomas, mas não é a escolha adequada nem saudável.

CEFALEIAS POR BAIXA DO CORTISOL – São as que aparecem em situações infecciosas, inflamatórias e de stress. Todos os tipos de cefaleias de que já falámos são exacerbados na deficiência de cortisol. Nestes casos, há que dar um corticosteroide para as aliviar e prevenir recorrência.

CELAFEIAS POR FALTA DE MELATONINA – Aparecem tipicamente de noite. O paciente acorda a meio da noite com uma dor de cabeça “pulsátil”, que só desaparece ao início do dia. Algumas vezes, estão associadas a quistos da glândula pineal, que produz a melatonina. O tratamento é efetuado com melatonina.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2017 (nº 277)