A diarreia aguda é mais prevalente nos meses de calor e é um motivo frequente de ida às urgências. Como passamos mais tempo em passeios, acabamos por comer mais vezes fora, havendo maior risco de ingestão de alimentos contaminados e de contacto com micro-organismos, na areia, na terra e nas águas que escolhemos para tomar banho, alerta o gastroenterologista Prof. Jorge Fonseca, diretor do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Garcia de Orta e Professor Catedrático do Instituto Universitário Egas Moniz.

“No verão, os nossos alimentos, as substâncias orgânicas estão mais quentes e os micro-organismos multiplicam-se com maior facilidade. Há o risco de os alimentos terem grandes cargas desses micro-organismos patogénicos, capazes de provocar doença”, explica. Por outro lado, lembra que nesta época do ano há uma tendência para comermos mais frutas, vegetais e outros alimentos não cozinhados, pelo que “é fundamental que estes estejam bem lavados e sejam consumidos antes de estarem expostos ao calor, para não se deteriorarem”.

Para o especialista, a prevenção é o melhor remédio para não transformar um agradável passeio em família num pesadelo. Jorge Fonseca sublinha que as pessoas devem, por isso, ter especial cuidado na escolha dos locais onde fazem as refeições, na forma como acondicionam os alimentos quando levam comida para consumir fora de casa, assim como devem optar por bebidas engarrafadas e lavar frequentemente as mãos. “Num dia de calor, as fontes podem ser tentadoras para matar a sede, mas é preciso ter cuidado porque a água pode estar contaminada. Daí que não seja apenas importante ter em conta a qualidade dos sumos, a água a copo e o gelo que se coloca nas bebidas que se consomem em bares ou restaurantes”, acrescenta.

O médico recomenda também atenção redobrada para os locais escolhidos para tomar banho. “As praias fluviais, os rios e as piscinas, regra geral, não têm uma monitorização tão sistemática como a água do mar, portanto devemos optar por locais onde haja plena confiança na qualidade da água”, explica.

Prevenção

A maioria dos casos de diarreia aguda está relacionada com bactérias patogénicas (como a Escherichia coli, Salmonella, Shigella ou a Campylobacter jejuni) ou com vírus (norovírus, rotavírus), embora possa também ser provocada por parasitas. “Os intestinos estão repletos de micro-organismos. Na realidade um metro de intestino grosso tem mais micro-organismos do que nós temos células humanas. Uma infeção no intestino não são exatamente micro-organismos a crescer em quantidade, como acontece noutros órgãos. São desequilíbrios na microbiologia intestinal, ou seja, do ecossistema das bactérias que habitualmente defendem o intestino e o mantêm equilibrado”, refere Jorge Fonseca.

“As diarreias agudas são habitualmente muito breves, um a três dias, e são frequentemente autolimitadas, ou seja, desaparecem espontaneamente. Contudo, o melhor conselho é a prevenção. Por isso, além dos cuidados que mencionei, as pessoas, antes de irem de férias, devem procurar o seu médico ou farmacêutico para terem consigo medicamentos que tratem a diarreia aguda e que sejam capazes de restabelecer a flora intestinal alterada, a tomar em caso de necessidade e sob a orientação prévia desse médico ou farmacêutico”, afirma o especialista.

Existem medicamentos que contêm eles próprios micro-organismos vivos, os quais combatem os agentes invasores, prevenindo e reduzindo a duração da diarreia1. Estes podem ser incluídos nas caixas de SOS que habitualmente levamos para férias, juntamente com os auxiliares no tratamento e desinfeção de feridas, analgésicos, repelentes, etc.

Quando recorrer à urgência

Para o gastroenterologista, “nos casos de diarreia simples (cinco a seis dejeções por dia de fezes moles), sem febre superior a 37,5ºC, sem mal-estar excessivo, as pessoas não se devem expor ao risco de se deslocarem a um serviço de urgência, em particular no atual contexto de pandemia”. Ao contrário, “devem ir ao médico perante uma diarreia prolongada acompanhada, por exemplo, de febre elevada, sangue nas fezes ou sinais de desidratação (prostração, vómitos, falta de força ou pressão arterial baixa)”.

Tratamento

A desidratação pode ser particularmente preocupante nas crianças, nos idosos e doentes crónicos. Em caso de diarreia, Jorge Fonseca recomenda a reidratação com água e chá de ervas, para serem bebidos com frequência e em pequenas quantidades. Sugere que se evitem os alimentos demasiado ricos em fibras ou em gorduras. A reintrodução de alimentos deve ser gradual, para verificar se são bem tolerados.
Em relação às crianças, o médico defende que não devem ser forçadas a comer quando não têm apetite, mas alerta que é muito importante mantê-las hidratadas (fórmulas de reidratação oral, água, água de arroz, etc.) e vigiar os níveis de glicose no sangue e o equilíbrio eletrolítico. “Quando a criança estiver mais recetiva pode começar por comer pequenas quantidades de carne branca magra, arroz, massa tipo macarrão ou batata cozida, pão branco torrado e alguma fruta, como a banana e a maçã”, explica.