A atividade física ao ar livre é um dos grandes prazeres do verão. Isto é ótimo, desde que se redobrem as precauções para evitar situações de hipertermia, isto é, o aumento perigoso da temperatura corporal.

 

Os seres humanos, ao contrário de outras espécies animais, são homeotérmicos, isto é, possuem uma temperatura corporal praticamente constante, sem flutuações superiores a 1 grau Celcius (ºC). A manutenção da temperatura corporal pressupõe um equilíbrio entre as perdas de calor e a produção do mesmo; assim, se a produção excede a perda, produz-se um aumento da temperatura interna.

Dois dos potenciais riscos de praticar exercício físico durante o verão – sobretudo, se for de forma intensa – são a ação dos raios solares e a hipertermia. Quanto a esta última, como em tantos outros aspetos relacionados com a saúde, as medidas preventivas são mais importantes do que as curativas.

A produção excessiva de calor, que dá origem ao estado de hipertermia, é um perigo a que estão muito mais expostas as crianças e as mulheres. No entanto, com as adequadas medidas de prevenção, designadamente no que se refere às roupas, à escolha dos horários mais indicados para a prática do desporto e à manutenção da hidratação, consegue-se, sem dificuldade, um bom equilíbrio entre a produção e a perda de calor.

Riscos para a saúde

O organismo possui uma série de mecanismos para a correta manutenção da temperatura corporal. Um deles é a evaporação, através da sudação, que é a forma mais usual na prática do exercício. Quando se combinam a intensidade do exercício com temperaturas ambientais elevadas e um alto grau de humidade relativa do ar, o mecanismo de transferência de calor altera-se e a temperatura central sofre um aumento exagerado, o que dá lugar a uma série de manifestações patológicas, que recebem, no seu conjunto, o nome de stress térmico.

Existem riscos para a saúde, se se pratica exercício físico em condições de stress térmico. As patologias mais frequentes são:

  • Cãibras devidas ao calor

É a menos severa. São cãibras musculares muito dolorosas, que geralmente afetam as extremidades inferiores e podem dever-se à perda de minerais e água. O tratamento consiste em transladar o indivíduo para zonas frescas e administrar-lhe soluções salinas – meia colher de sal por cada litro de água.

  • Colapso por calor

É o problema térmico mais comum, cujos principais sintomas são fadiga, cefaleias, vertigens, náuseas, vómitos, cãibras musculares, pele pálida, fria e húmida ou quente e seca, hipotensão e aumento da frequência cardíaca. Deve colocar-se o paciente deitado e aplicar-lhe pachos tépidos; em posição de decúbito superior, elevar-lhe as pernas, para melhorar o fluxo sanguíneo cerebral; e administrar-lhe líquidos, de forma oral – se estiver consciente – ou intravenosa – se estiver desmaiado.

  • Golpe de calor

É de extrema gravidade e requer tratamento imediato. A temperatura do indivíduo pode ultrapassar os 40º C, com cessação da sudação; a vítima costuma parecer agitada, desorientada e confusa, inclusivamente com sintomas de psicose; a pele ficará quente e seca, observando-se, simultaneamente, um aumento da frequência do pulso e da respiração. Deve afastar-se doente da radiação solar e procurar conseguir um rápido arrefecimento, humedecendo a superfície corporal; na maioria dos casos, é necessária hospitalização, para a administração de soro fisiológico intravenoso e tratamento das complicações.

 

Roupa branca e água

  • Todos os praticantes de desportos ao ar livre, sejam eles amadores ou profissionais, deverão ter os conhecimentos necessários e suficientes para identificarem os sintomas de stress térmico e realizarem as primeiras ações terapêuticas;
  • Em climas quentes e atividades de longa duração, deve utiliza-se roupa branca, folgada e leve, para permitir a termorregulação;
  • É conveniente beber entre 100 e 200 ml de água ou soluções isotónicas, de 10 em 10 minutos;
  • Os organizadores de eventos desportivos evitariam muitos problemas se programassem as competições para as primeiras horas da manhã ou para o início da noite.

Leia o artigo completo na edição de julho/agosto 2018 (nº 285)