Com esta campanha, esperamos contribuir para aumentar o número de doações de óvulos e espermatozoides e também ajudar a derrubar preconceitos.

Artigo da responsabilidade do Dr. Pedro Xavier, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução

A Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR) é uma sociedade científica fundada há mais de 40 anos, com uma vocação original muito ligada à promoção do conhecimento na área da Reprodução Humana. No entanto, sendo a infertilidade uma doença que desperta grande interesse na opinião pública, temos vindo a sentir uma grande necessidade de alargar a nossa área de intervenção à Sociedade Civil.

Essa intervenção tem, sobretudo, o objetivo de informar e sensibilizar os nossos concidadãos para os diferentes problemas associados a esta área da medicina. Uma das iniciativas que, na minha opinião, traduz de forma bem clara essa mais recente vocação é, sem dúvida, a campanha designada “Dá vida à esperança”, que foi lançada pela SPMR durante o mês de março de 2019.

Necessidade da doação de óvulos e espermatozoides

O objetivo principal da campanha é sensibilizar a opinião pública para uma realidade desconhecida da maioria dos portugueses: há uma grande necessidade da doação de óvulos e espermatozoides em Portugal, porque, infelizmente, muitos casais só vão poder concretizar o sonho de ter um filho através dessas dádivas.

Só para concretizar com alguns dados objetivos esta afirmação, refiro-me à lista de espera no Banco Público de Gâmetas, uma vez que é de cerca de três anos para um tratamento com doação de óvulos e de cerca de dois no caso de espermatozoides.

São várias as situações clínicas ou doenças que podem levar a esta necessidade. Cito, a título de exemplo, algumas das mais frequentes: esgotamento prematuro dos óvulos (condição vulgarmente designada por menopausa precoce); produção de óvulos de má qualidade que torna a mulher incapaz de gerar uma criança; e mulheres a tentar engravidar em idades tardias, nomeadamente depois dos 35 anos, altura em que a quantidade e qualidade dos óvulos pode já não ser a ideal.

Existem também doenças que afetam o desenvolvimento dos espermatozoides e que, em situações extremas, podem mesmo levar à ausência completa da produção destas células.

Esta necessidade, que se tem vindo a acentuar nos últimos anos, contrasta com a pouca adesão às doações por parte da população mais jovem, que é obviamente a população protagonista neste processo, uma vez que as idades limites para doar são os 35 anos, no caso da mulher, e os 40 anos no caso do homem.

Objetivo: informar

A convicção que temos é que esta fraca adesão não tem por base uma falta de solidariedade para com os potenciais beneficiários, mas sim uma grande desinformação sobre o enquadramento legal, social e médico sobre as doações. E é exatamente neste ponto que se centra o segundo objetivo da campanha: informar. Há ainda a ideia de que não é legal doar em Portugal, que não há necessidade de doar ou que a doação de gâmetas, nomeadamente de óvulos, pode ser prejudicial para a saúde de quem doa, eventualmente prejudicando a sua fertilidade futura. Estas ideias, não só estão completamente erradas, como é muito importante desmistificá-las.

A terceira ideia em que assenta esta campanha é permitir dar a conhecer aos potenciais dadores como e onde podem doar. É muito importante que fiquem informados sobre alguns dos aspetos clínicos associados às doações, nomeadamente os procedimentos médicos, as implicações legais, a questão do anonimato e as respetivas compensações financeiras. Só pessoas informadas tomam decisões conscientes e nós queremos que as doações tenham cada vez mais uma componente altruísta e solidária, que só será possível acontecer se forem concretizadas por dadores esclarecidos.

A campanha “Dá vida à esperança” surge exatamente pelas razões acima elencadas. É nosso propósito passar a mensagem ao maior número de destinatários possível. Para que tal aconteça, estamos empenhados em estar presente, não apenas nos meios de comunicação social e nas redes sociais, mas também no terreno, fazendo sessões de esclarecimento nas universidades e em todas as outras instituições que nos queiram e possam receber. Com esta iniciativa, esperamos contribuir para aumentar o número de doações e também ajudar a derrubar preconceitos que a nossa sociedade ainda mantém relativamente a dadores e beneficiários e que, em muitos casos, os afasta da solução que permite concretizar o sonho de ter um filho.

Leia o artigo completo na edição de maio 2019 (nº 294)