O estoma pode ser o recomeço da sua vida e a oportunidade para uma vivência plena da sua sexualidade.

Artigo da responsabilidade da Dra. Joana Ferreira. Medicina Geral e Familiar. Sexologia Clínica e Terapia de Casal

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a sexualidade é “uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade, que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental” (OMS, 1992).

A sexualidade é uma parte integrante da vida de cada indivíduo, independentemente da idade, raça, etnia, orientação sexual, sexo, identidade de género ou condição física, como um estoma. Este, pode alterar o seu funcionamento sexual, mas não vai tirar ou destruir a sua sexualidade.

IMPACTOS VARIÁVEIS NA RESPOSTA SEXUAL

O estoma é a exteriorização, através da parede abdominal, de uma parte do intestino (delgado ou grosso) ou dos condutos urinários, que possibilita a eliminação de fezes ou urina. A sua localização vai depender do local do segmento comprometido.

Como a cirurgia de ostomia ocorre na região abdomino-pélvica e parte ou todos os órgãos são removidos, é expetável que o funcionamento sexual possa ser afetado. As mudanças que podem ocorrer nos homens são diferentes daquelas que podem ocorrer nas mulheres. O tipo de cirurgia de ostomia que é realizada (ileostomia, colostomia, urostomia) e a razão pela qual foi feita terão também impactos diferentes na resposta sexual.

Os sobreviventes de cancro ou outras doenças que levaram à necessidade de criar um estoma de eliminação podem, de facto, enfrentar complicações significativas na vivência da sua sexualidade. As principais complicações fisiológicas para os homens incluem a disfunção erétil e dificuldades ejaculatórias. Para as mulheres, a dispareunia (dor na relação sexual) é a mais impactante.

PREOCUPAÇÕES EMOCIONAIS, SOCIAIS E FÍSICAS

Frequentemente, a formação cirúrgica de um estoma resulta ainda em complexas preocupações emocionais, sociais e físicas. Por um lado, as pessoas têm que se ajustar a um corpo pós-cirúrgico, com impacto na imagem corporal da pessoa e autoconfiança. Por outro, podem enfrentar a aversão cultural às fezes que, associada à possibilidade de vazamento e maus odores, poderá também influenciar a diminuição do desejo de atividade sexual.

Embora a criação de um estoma e as doenças e condições que levaram à cirurgia possam deixar o/a utente temporariamente fraco(a) ou com um desejo sexual reduzido, ter um estoma não significa ignorar a sua sexualidade.

Como nos sentimos afeta o que somos capazes de fazer. Portanto, é importante deixar o corpo recuperar e aprender a cuidar do estoma antes do envolvimento sexual. Poderá também ser um tempo para reflexão sobre os sentimentos, medos e expetativas da pessoa.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2022 (nº 330)