CIRURGIA MINIMAMENTE INVASIVA, CIRURGIA POR NEURONAVEGAÇÃO E CIRURGIA ROBÓTICA – O PRESENTE E FUTURO DE UMA CIRURGIA DE COLUNA CADA VEZ MAIS SEGURA.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. Luís Teixeira, ortopedista; diretor do Spine Center e presidente da associação sem fins lucrativos Spine Matters

 

Ao longo dos últimos 30 anos, a cirurgia da coluna tem conhecido enormes desenvolvimentos, permitindo a realização de intervenções cirúrgicas cada vez mais complexas, com uma melhoria na sua eficácia e segurança.

OUTROS TEMPOS

No entanto, ao longo do seu desenvolvimento, os resultados nem sempre foram os melhores, encontrando-se a cirurgia da coluna associada, no passado, a um elevado número de complicações. Na década de 80 e 90, vários foram os estudos publicados demonstrando resultados clínicos satisfatórios em apenas 68% dos doentes operados. Mais se acrescenta que estes procedimentos se encontravam associados a elevadas taxas de complicações (cerca de 20%), com taxas de re-intervenção cirurgia de 18%, devido a perda ou falha de fixação dos implantes.

À data, a área da cirurgia da coluna encontrava-se a dar os primeiros passos, motivo pelo qual os doentes, muitas vezes, obtinham melhorias escassas por breves períodos de tempo, atendendo a que implantes eram rígidos e aceleravam alguns processos degenerativos em curso.

A ATUALIDADE

Atualmente, esta tendência mudou radicalmente. Com a introdução de novos dispositivos e tecnologias de auxilio intra-operatório, a cirurgia da coluna obteve enormes avanços tecnológicos, permitindo a realização de procedimentos cada vez mais complexos, por vias minimamente invasivas, com resultados clínicos muito superiores, comparativamente aos demonstrados ao longo das décadas passadas.

Os grandes passos dados na cirurgia da coluna foram:

Criação de Unidades de Cirurgia de Coluna especializadas e altamente diferenciadas

A minúcia e o rigor dos procedimentos exige unidades multidisciplinares altamente especializadas, com cirurgiões muito experientes, e dotadas de elevado equipamento tecnológico.

Cirurgia minimamente invasiva

O lema “grande incisão, grande cirurgião” caiu completamente em desuso. O desenvolvimento de técnicas minimamente invasivas permitiu uma menor agressividade do ato cirúrgico e, com isso, a obtenção de uma recuperação mais rápida do doente, com melhores resultados clínicos.

Assim, é possível, com um elevado nível de segurança, efetuar tratamentos cirúrgicos com um tempo programado de internamento de 1 a 2 dias, quando antigamente seria necessário um tempo de permanência hospitalar de semanas.

A cirurgia minimamente invasiva possibilita uma recuperação mais rápida do doente, permitindo melhores resultados funcionais, mesmo em indivíduos com profissões de elevadas exigências físicas ou em atletas de alta competição, com um retorno mais rápido a níveis de performance elevados.

Cirurgia sem dores, durante e após

O desenvolvimento de novas técnicas anestésicas permitiu uma redução muito significativa da dor pós-operatória, possibilitando ao doente ter autocontrolo da medicação analgésica através de bombas de infusão, melhorando o conforto e as queixas associadas mesmo em procedimentos mais agressivos. Desta forma, o doente pode levantar-se e caminhar em menos de 24 horas após a sua cirurgia, permitindo uma melhor recuperação.

Cirurgias mais rápidas e mais seguras

A introdução de aparelhos mais sofisticados permitiu diminuir a complexidade de alguns procedimentos cirúrgicos, reduzindo o tempo operatório para menos de metade, comparativamente com a realidade de há 20 anos.

Atualmente, é possível operar uma hérnia discal por uma via de abordagem minimamente invasiva, com um tempo cirúrgico inferior a 1 hora e o doente ter alta no mesmo dia.

Além disso, menores tempos cirúrgicos, associados a vias de abordagem mais direcionadas e de menores dimensões, diminuem a exposição a bactérias, reduzindo o risco de complicações associadas.

Melhor visualização, menor risco cirúrgico

Atualmente, um cirurgião de coluna tem ao seu dispor inúmeros instrumentos que o podem auxiliar no tratamento de doentes com patologias graves da coluna vertebral, reduzindo a taxa de complicações graves.

O uso de microscópios com enorme poder de ampliação permite melhorar a capacidade de visualização do campo cirúrgico, havendo uma melhor perceção das estruturas que se encontram atingidas, como a medula ou as raízes nervosas, melhorando a capacidade do cirurgião para tratar patologias graves da coluna vertebral, nomeadamente tumores e estenoses canalares, com um menor risco de lesão neurológica.

Cirurgia por neuronavegação – um passo de gigante na colocação de implantes da coluna com segurança máxima

Embora apenas esteja disponível em alguns centros em Portugal, a neuronavegação permite uma melhoria significativa na capacidade de posicionamento de implantes. Este dispositivo consiste na utilização de uma TAC intra-operatória, que permite colocar parafusos e implantes em tempo real, com auxílio de antenas e instrumentos assistidos por meios informáticos avançados de aquisição de imagem.

Esta tecnologia permite, não só melhorar a eficácia cirúrgica (uma vez que o posicionamento de implantes em trajetórias ideais melhora a capacidade biomecânica da cirurgia realizada), como também diminuir a taxa de complicações associadas.

Com uso desta tecnologia, há uma redução muito significativa no número de parafusos colocados fora do seu trajeto ideal, sendo a taxa de revisão cirúrgica por mau posicionamento de implantes reduzida para percentagens muito próximas dos 0 por cento.

Por todas estas razões, a neuronavegação permite melhorar a segurança e eficácia no posicionamento de implantes, sendo um dispositivo fundamental em casos de cirurgias mais complexas, como correção de deformidades ou revisões cirúrgicas.

Robótica em cirurgia de coluna – o futuro está a chegar

Apesar da cirurgia robótica já existir noutras áreas cirúrgicas, a robótica aplicada à cirurgia da coluna vertebral apenas começa agora a dar agora os seus primeiros passos. Os equipamentos hoje existentes em raríssimos hospitais a nível mundial (ainda não existem na Europa) implicam ainda o auxílio do cirurgião para o correto posicionamento de implantes, mas o seu desenvolvimento poderá permitir no futuro a aplicação completamente autónoma de implantes, podendo reduzir ainda mais a taxa de complicações associada a erros humanos.

Estão ainda em fase de desenvolvimento equipamentos robóticos manuseados à distancia por cirurgiões, funcionando como uma extensão dos braços humanos, com enorme precisão.

Leia o artigo completo na edição de dezembro 2019 (nº 300)