São muitos os indicadores que revelam o potencial das células estaminais e o crescente interesse nesta possibilidade terapêutica. Na eventualidade de surgimento de doenças que possam beneficiar da utilização de células estaminais, criopreservar as células do cordão umbilical constitui uma medida que pode alargar as possibilidades de tratamento no futuro.

Artigo da responsabilidade da Dra. Carla Cardoso, diretora de Investigação e Desenvolvimento da Crioestaminal

 

As células estaminais são células com características que as tornam “especiais”, dada a capacidade de se autorrenovarem indefinidamente e de se conseguirem diferenciar num ou mais tipos de células especializadas. As células estaminais podem ser classificadas em função da sua origem e/ou da sua capacidade de diferenciação em dois tipos: embrionárias e adultas.

As células estaminais embrionárias, presentes numa fase inicial do desenvolvimento humano, originam todos os tipos de células (tecidos e órgãos) que constituem o corpo humano. As células estaminais adultas permitem manter as funções dos tecidos e órgãos em que estão presentes, bem como reparar os tecidos/órgãos em caso de lesão. Alguns tecidos neonatais, como a placenta, o sangue e o tecido do cordão umbilical, contêm também populações de células estaminais adultas (assim designadas por serem obtidas após o nascimento) com interesse terapêutico.

As células estaminais adultas que têm tido maior relevância a nível clínico são as células estaminais da medula óssea, do sangue periférico e do sangue do cordão umbilical. Estas fontes são ricas em células estaminais hematopoiéticas, isto é, as células que dão origem a todas as células do sangue: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.

Células estaminais do sangue do cordão umbilical

O sangue do cordão umbilical é atualmente considerado uma fonte de células estaminais alternativa à medula óssea e pode ser usado para o tratamento de mais de 80 doenças, que incluem doenças do sangue (como leucemias e alguns tipos de anemias) e do sistema imunitário, e ainda doenças metabólicas, tendo já sido realizados mais de 40.000 transplantes com sangue do cordão umbilical em todo o mundo.

Para além disso, a sua utilização encontra-se em estudo em ensaios clínicos (utilização experimental em humanos), em doenças como paralisia cerebral, autismo, perda auditiva, diabetes tipo 1, lesões da espinal medula, entre outras, o que poderá aumentar o leque de aplicações clínicas do sangue do cordão umbilical.

Células estaminais do tecido do cordão umbilical

O tecido do cordão umbilical é muito rico num outro tipo de células, as células estaminais mesenquimais, que poderão vir a ser úteis para o tratamento de um conjunto alargado de doenças. As células estaminais mesenquimais podem diferenciar-se em cartilagem, osso, músculo e gordura. Para além disso, estas células têm a capacidade de regular a resposta do sistema imunitário, podendo vir a ser usadas no tratamento de doenças autoimunes, para além de, quando utilizadas em conjunto com células estaminais hematopoiéticas, poderem aumentar a probabilidade de sucesso dos transplantes.

O potencial destas células encontra-se em estudo em ensaios clínicos em doenças como diabetes, colite ulcerosa, cirrose hepática, cardiomiopatias, esclerose múltipla, lúpus e doença do enxerto contra hospedeiro, entre outras.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2018 (nº 286)