Estamos a falar de uma doença que mata 3 portugueses por dia. Reflitamos sobre o que cada um de nós pode fazer para mudar a realidade do cancro da cabeça e pescoço.

 

Artigo da responsabilidade da Dra.  Ana Joaquim, médica oncologista do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho; secretária da Direção do Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço

 

Num passado recente, o cancro de cabeça e pescoço era uma realidade escondida. E são várias as justificações. Se, por um lado, uma percentagem significativa de doentes são alcoólicos e/ou fumadores, com má higiene oral e de estratos sociais baixos, por outro, os tratamentos são agressivos e, por vezes, mutilantes, com consequente vergonha do próprio, da família e da comunidade. Por fim, até há pouco tempo, a própria investigação era escassa nesta área, com poucas alternativas terapêuticas médicas para o número elevado de situações avançadas.

Era uma realidade de tal forma escondida que era considerada uma doença rara. Hoje em dia, é de conhecimento geral que não é uma doença rara. Como se poderia continuar a considerar rara uma doença que, em Portugal, é diagnosticada em cerca de três mil doentes por ano? Segundo os últimos dados, a incidência deste cancro é de 43 novos casos por 100.000 habitantes na população masculina e de 7 novos casos por 100.000 habitantes na população feminina.

BOM PROGNÓSTICO QUANDO A DETEÇÃO É PRECOCE

Nos últimos anos, muito mudou na sensibilização da comunidade científica, médica e civil relativamente a esta doença. Felizmente.

Quando diagnosticado numa fase inicial, o cancro de cabeça e pescoço é habitualmente tratado com um tipo de tratamento apenas (cirurgia – frequentemente pouco agressiva – ou radioterapia), com uma taxa de sucesso entre os 80 e 90 por cento.

Por sua vez, quando é diagnosticado em fase avançada, o tratamento é multimodal, o que significa que inclui mais do que uma modalidade terapêutica, com cirurgias complexas de exérese tumoral e reconstrução e/ou esquemas de quimio e radioterapia tóxicos. Nestes casos, a esperança média de vida é de cerca de cinco anos e a taxa de sucesso de 50%. Infelizmente, a maioria dos doentes, mais propriamente 60%, ainda são diagnosticados em fase avançada.

SINTOMAS E SINAIS

Um dos motivos é o desconhecimento geral relativo aos sintomas e sinais que esta doença pode originar. Estes são facilmente compreensíveis, se soubermos as localizações possíveis do cancro de cabeça e pescoço. Este engloba qualquer tipo de cancro nas vias aéreas ou digestivas da região da cabeça e pescoço, com exceção do esófago cervical.

O cancro da cavidade oral, frequentemente, manifesta-se por lesões vermelhas, brancas ou vegetantes associadas – ou não – a dificuldade na deglutição e hemorragia. A nível da faringe, a dificuldade ou dor em engolir são possíveis manifestações. O cancro da laringe poderá cursar com rouquidão e dor. O cancro da cavidade nasal poderá condicionar entupimento nasal e hemorragia. O aumento dos gânglios do pescoço, cursando com nódulos ou massas cervicais mais ou menos volumosas, é, também, uma possível manifestação.

Leia o artigo completo na edição de outubro 2019 (nº 298)