Graças aos progressos da medicina, a expetativa de cura do cancro da mama tem aumentado muito significativamente. Mas qual é a probabilidade de uma recidiva? É o que vamos analisar.

  

Artigo da responsabilidade do Dr. Luís Costa. Oncologista no Hospital CUF Descobertas – CUF Oncologia

 

O cancro da mama é um dos melhores exemplos de como a Ciência tem oferecido à Medicina alternativas para curar mais pessoas que são atingidas por esta doença. De facto, por diagnosticarmos mais cedo e por tratarmos melhor e mais cedo, ganhamos vantagens na expetativa de cura para as doentes, isto é, temos maior probabilidade de não haver uma recidiva do cancro da mama.

Importa esclarecer que, quando aplicamos o termo recidiva, queremos dizer que havia células tumorais que persistiram após a cirurgia e que se tornaram clinicamente detetáveis, sobre a forma de metástases em outros órgãos ou como recidiva loco-regional (na mama restante, na pele próxima da cirurgia, nos gânglios mais próximos de onde estava o tumor inicial). A recidiva mais grave é a que se apresenta com metástases em outros órgãos.

FATORES DE RISCO PARA UMA RECIDIVA

Os fatores de risco para uma recidiva de um cancro da mama são bem conhecidos, entre os quais: o tamanho do tumor que foi ou vai ser operado; a existência de gânglios linfáticos na axila com células tumorais; o grau de diferenciação do tumor; o subtipo de cancro da mama e as características das células tumorais (por exemplo, os tumores que têm indicadores de multiplicação celular mais alto são de maior risco).

Os tumores da mama de maior risco são tratados após a cirurgia (ou, por vezes, antes de serem operados) com quimioterapia, durante um período de tempo que pode ir até 6 meses, em regra.

Para alguns subtipos de cancro da mama, associamos anticorpos dirigidos a um recetor que está expresso nas células tumorais (o HER2).

Para outros tumores, fazemos hormonoterapia após a quimioterapia ou logo após a cirurgia, se não precisam de quimioterapia. Estes são a maioria dos cancros da mama e são os que exprimem nas células tumorais recetores de estrogénios e/ou de progesterona e devem ser tratados com hormonoterapia durante, pelo menos, 5 anos.

É, também, conhecido que, após a cirurgia, muitas doentes recebem tratamentos de radioterapia. Por exemplo, é obrigatório nas doentes cuja cirurgia só removeu uma parte da mama (cirurgia conservadora).

ELEVADA TAXA DE CURA

Tudo o que dissemos visa eliminar células tumorais isoladas (ou ninhos microscópicos) que estejam na vizinhança do local onde o tumor foi removido ou que estejam já alojadas em outros órgãos à distância. Assim, aumentamos a probabilidade de cura, porque eliminamos as células que poderiam voltar a crescer e a formar tumor clinicamente detetável sobre a forma de recidiva loco-regional ou sob a forma de metástases.

De uma forma geral, os tumores da mama que são diagnosticados numa fase inicial são curáveis em cerca de 80% dos casos. Isto é, a taxa de recidiva ao longo dos anos seguintes é de 20%. Existem tumores de elevado risco para recidiva e outros de muito baixo risco para recidiva (5% ou menos).

Mesmo nos cancros da mama com elevado risco para recidiva (por exemplo, maiores do que 2 cm, com gânglios metastizados na axila e com índice proliferativo muito elevado) temos de concretizar o melhor plano terapêutico para a cura. Temos doentes nestas circunstâncias que estão curadas com 5, 10 ou mais anos de seguimento.

Os cancros da mama do subtipo “triplo negativo” (as células tumorais não expressam recetores de estrogénios ou de progesterona ou do dito recetor HER2), com índice proliferativo elevado, são de risco elevado para recidiva, mas, se aos 5 anos as doentes estiverem bem, é muito provável que estejam curadas.

Já os tumores que expressam recetores hormonais (se forem de risco para recidiva) podem reaparecer muitos anos após a cirurgia. Este é um dos motivos pelo qual devem fazer hormonoterapia durante, pelo menos, 5 anos. Este tipo de células tumorais pode ficar noutros órgãos (mais frequentemente o osso) quiescente, sem replicação, durante muito tempo. No entanto, convém referir que a maioria dos cancros da mama que expressam recetores hormonais são curáveis, sobretudo se não forem muito grandes, não tiverem gânglios axilares afetados e se forem de baixo grau.

As recidivas loco-regionais devem ser tratadas com cirurgia e/ou radioterapia e, frequentemente, pode ser necessário rever o tratamento sistémico (a hormonoterapia ou mesmo a quimioterapia). Cerca de 60% das doentes permanecem sem recidiva aos 10 anos após serem tratadas a uma recidiva loco-regional.

Tudo o que dissemos refere-se à possibilidade de um cancro voltar após cirurgia. Não podemos esquecer que uma mulher que teve um cancro da mama pode ter outro (um novo) cancro da mama: acontece muitas vezes, anos após, na outra mama. Deve ser abordado como um novo cancro, rever os fatores de risco e estabelecer um plano terapêutico com intuito curativo (inclui, obviamente, a cirurgia).

Leia o artigo completo na edição de outubro 2021 (nº 319)