O pé é uma estrutura complexa, com capacidades físicas e mecânicas específicas. Por isso, cada pessoa precisa de sapatos que se ajustem às suas características particulares, à respetiva atividade e ao meio que a rodeia. Infelizmente, nos nossos dias, o mais comum é escolher o calçado em função da moda, esquecendo as necessidades biomecânicas.

 

De acordo com a função que o sapato tenha de cumprir, alguns fatores de seleção ganham supremacia em relação a outros. Assim, verifica-se que um sapato “de toillete” de senhora, dotado de um salto fino e alto, pode ser extraordinariamente elegante, mas dificulta a normal função do pé durante a marcha e a biodistenção – isto é, a posição erguida que caracteriza os seres humanos. Contudo, se estes sapatos forem calçados durante pouco tempo – apenas numa festa, por exemplo –, não terão consequências adversas para a saúde.

Inversamente, os sapatos de criança devem dar prioridade à saúde do pé, deixando para segundo plano os aspetos estéticos. Por sua vez, quando se desenha calçado desportivo destinado à competição, deve dar-se ênfase ao rendimento e à funcionalidade.

Independentemente das características específicas de cada tipo de calçado, características que se ajustam aos objetivos e às particularidades de cada utilizador, existem quatro requisitos funcionais mínimos e obrigatórios, do ponto de vista da manutenção da saúde:

  • a adaptação plena do calçado à forma e dimensões dos pés do utilizador;
  • a sua incidência positiva nos movimentos do pé;
  • a adequada amortização das cargas derivadas do contacto do pé com o solo; e
  • o mínimo atrito entre o calçado e a superfície do pé.

NÃO EXISTEM DOIS PÉS IGUAIS

Antigamente, quando um artesão se propunha fazer um par de sapatos, baseava-se em dimensões que eram tiradas diretamente dos pés do futuro utilizador. Tempos depois, com a chegada da Era Industrial, o calçado fabricado em série adaptou-se a um molde de madeira ou de outros materiais, cujo desenho dependia – e depende ainda hoje – da experiência acumulada pelos desenhadores ou do êxito obtido nas vendas de um determinado tipo de calçado. Esse molde, sobre o qual se efetua a montagem industrial dos diferentes componentes do calçado, é o que, em última instância, determina a forma e as dimensões do produto final.

No entanto, pode afirmar-se que não existem dois pés iguais. A idade, o sexo, a raça, o nível socioeconómico e a atividade física que os pés têm de suportar são fatores de carácter estrutural, que tornam difícil estabelecer modelos normalizados.

Normalmente, é necessário procurar que o calçado se adapte ao pé e aos seus movimentos e nunca ao contrário. Há que banir a ideia de que os sapatos “são domáveis” com o uso. As agressões sobre as articulações, provocadas pelo uso prolongado de um calçado pontiagudo, bem como as erosões da pele e das unhas, devidas ao atrito do sapato, criam deformações e alterações que, em idades mais avançadas, dificultam a marcha e o uso de calçado normal.

Leia o artigo completo na edição de outubro 2017 (nº 276)