Compaixão pelo próximo e paciência são as palavras-chave para conseguir atingir o mais alto nível de bondade e consequente tranquilidade. Compaixão para nos reunirmos de sentimentos bons e paciência para habituar a mente a ter autocontrolo.

 

Tibete, Budismo, Dalai Lama, Zen… são nomes já comuns no Ocidente e que trazem sempre associados palavras como paz, tranquilidade, meditação, compaixão… Na verdade, o budismo não se trata de uma religião ou medicina, mas de uma filosofia de vida que procura elevar o indivíduo ao seu mais alto nível de conhecimento e bondade, traduzindo-se em paz e tranquilidade interiores.

Se examinarmos as nossas vidas, o descontentamento, a angústia e o transtorno que experimentamos, é fácil perceber que reagimos a essas condições internamente, e aí reside a fonte da nossa infelicidade.

Segundo a filosofia budista, não é o que acontece concretamente que nos faz felizes ou tristes. Pelo contrário, é nossa própria mente. Se realmente queremos atingir um estado de paz, se queremos entender a nossa própria natureza perfeita, devemos mudar a mente. Tomar consciência que o poder está na mente é meio caminho para a paz.

O trabalho pela concórdia é, por si só, um caminho espiritual, um meio de desenvolver as qualidades perfeitas da mente e testar essas qualidades nos momentos de urgente necessidade, sofrimento extremo e morte.

Se não temos paz interior, não é porque há algo de errado com o mundo exterior. A paz interior é um subproduto direto da própria mente da pessoa. Assim, segundo o budismo, não importa as condições externas; a paz surge como um resultado direto de todas as ações do passado e de acordo com a nossa motivação interna. Se atualmente estamos em paz, deve-se a toda a bondade, bons trabalhos e ações compassivas que realizámos anteriormente.

Mas mesmo que tenhamos uma acumulação de comportamentos não-pacíficos, não é impossível mudar esta atitude. A própria mente tem uma capacidade de mudança intrínseca. O que quer que a pessoa pense é o que se traduz na realidade da pessoa. Portanto, se a pessoa deseja ter condições cheias de paz, afortunadas, conducentes, a chave de tudo é um coração puro, as aspirações altruístas da própria pessoa, sua motivação pura. A diferença está no coração, na motivação pelo que faz. E é isto que faz toda a diferença no resultado de suas ações no mundo.

Compaixão pelo caminho para a paz

Os budistas acreditam que se alguém realizar ações unicamente para benefício próprio, essas práticas não são efetivas e produzem pouco ou nenhum mérito. Neste sentido, ter compaixão cultiva boas qualidades dentro do indivíduo e ajuda-o a perceber a sua própria realidade. Por comparação, os seus problemas, embora reais, não são esmagadores, podendo o indivíduo lidar com eles. Sabendo isso liberta a tensão na sua vida.

Se contemplar como é estar na pele dos outros seres e depois voltar à sua própria experiência de realidade, encontrará tranquilidade na mente — um lugar onde há conforto e calma, onde percebe que os seus problemas não são tão esmagadores.

Quem consegue alienar-se de toda a sua existência e compadecer dos problemas dos outros é considerado iluminado. Neste estágio, estão os budas, que mais não são que indivíduos comuns, que despertaram do sono da ignorância e que perceberam a realidade como ela é, com absoluta claridade e profunda compaixão pelos seres que sofrem.

E como chegar a este processo? A meditação tem dois propósitos: remover a ilusão da mente e, então, acentuar o que é natural na mesma. Muitas pessoas pensam que meditação significa abstrair o consciente de tudo o que o rodeia. Este tipo de meditação pode ser feita por um curto período de tempo, mas há muito mais do que isto a ser feito. Uma mente descansada e confortável é algo que cultivamos. Não é um estado de relaxamento que impomos à força numa mente perturbada.

 

Leia o artigo completo na edição de dezembro 2016 (nº 267)