Impacto da obesidade materna na ativação e estimulação do sistema imunitário induzida pelo microbioma intestinal da criança ganha bolsa da Biocodex Microbiota Foundation. 

O projeto PRIMING, que tem como objetivo compreender o impacto da obesidade materna na ativação e estimulação do sistema imunitário da criança induzido pela microbiota intestinal ao longo do primeiro ano de vida, da autoria de uma equipa de investigadores do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto –, foi o vencedor da 2.ª edição da Bolsa Nacional para Projetos de Investigação, atribuída pela Biocodex Microbiota Foundation. A Prof.ª Dra. Benedita Sampaio Maia e a sua equipa* vão receber um apoio financeiro de 25 mil euros para desenvolverem o projeto.

Profª. Dra. Benedita Maia

“Através do estudo aprofundado do papel da microbiota intestinal disbiótica (desequilibrada) transmitida pela mãe obesa na ativação e estimulação do sistema imunitário da criança, esperamos compreender melhor o papel do microbioma na indução de doenças metabólicas”, afirma a Prof.ª Doutora Benedita Sampaio Maia. Revela ainda que, “os resultados da investigação podem também abrir caminhos para o desenvolvimento de meios de diagnóstico precoce e de estratégias terapêuticas inovadoras e personalizadas, como por exemplo, a manipulação da microbiota intestinal desde os primeiros dias da vida”, e, portanto, mais eficazes.

Segundo a investigadora do i3S e professora da Faculdade de Medicina Dentária da UP, “no início da vida, a aquisição, maturação e estabelecimento do microbioma são moldados por interações entre o hospedeiro e os microrganismos, nas quais a mãe parece desempenhar um papel fundamental como uma das fontes mais importantes de microrganismos para a criança”.

De acordo com a evidência científica atual, o peso materno é o fator não relacionado com o bebé que mais influencia o desenvolvimento da obesidade na infância e ao longo da vida. A Prof.ª Benedita Sampaio Maia sublinha que “a transmissão da microbiota com potencial de promover a obesidade (obesogénica) entre mãe e filho tem sido sugerida como uma possível via de transmissão intergeracional da obesidade”. E acrescenta que “como o início da vida representa uma janela crítica para a estimulação imunitária, a aquisição de uma microbiota intestinal desequilibrada (disbiótica) pode comprometer o desenvolvimento de um sistema imunitário saudável. Assim, o processo de transmissão microbiana poderá comprometer a saúde da criança ao longo da sua vida e de gerações futuras.

Para desenvolverem esta investigação, os autores vão avaliar uma coorte prospetiva de filhos de mães saudáveis ou obesas. O microbioma de amostras fecais de crianças colhidas 1, 6 e 12 meses após o parto será caracterizado e utilizado para estimular in vitro células dendríticas derivadas de monócitos de dadores de sangue saudáveis.

A investigação do i3S/UP será desenvolvida por uma equipa multidisciplinar com experiência em áreas como a Microbiologia, Ginecologia/Obstetrícia, Biologia, Bioquímica
e Medicina Dentária, em colaboração com as Faculdades de Medicina e Medicina Dentária da Universidade do Porto, o Hospital Universitário de São João e a Faculdade de Medicina Dentária das Vrije Universiteit e Universiteit van Amsterdam (ACTA).

O tema escolhido para os projetos candidatos à edição 2020/2021 da Bolsa Nacional Para Projetos de Investigação foi a “Microbiota Gastrointestinal e o Sistema Imunitário”. Os projetos foram avaliados por um júri independente constituído pelos quatro membros do Comité Científico da Biocodex Microbiota Foundation em Portugal, que escolheram a investigação do i3S entre uma short list de 14 candidaturas.

No ano passado, a Bolsa tinha como tema a “Microbiota Humana na Saúde e na Doença” e foi atribuída a um projeto de investigação que visava a identificação de perfis específicos de microbiota e metabolitos que possam prever melhores terapêuticas para os doentes com Espondilartrite (SpA) e a Artrite Reumatoide (AR), da autoria dois investigadores da NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, a Prof.ª Doutora Ana Faria e o Prof. Doutor Fernando Pimentel-Santos.

Em breve será anunciado o tema e protocolo para as candidaturas da próxima Bolsa.

EQUIPA DE INVESTIGAÇÃO
Benedita Sampaio Maia (PI), Maria José Oliveira, Inês Alencastre, Egija Zaura, Carla Ramalho, Maria João Azevedo, Inês Falcão-Pires, Ricardo Araujo, Flávia Teixeira Castro, Ana Patrícia Cardoso, Ângela Amorim Costa, Joana Campos, Ana Filipa Ferreira.

Biocodex Microbiota Foundation
Existe um interesse crescente na microbiota devido ao seu potencial numa ampla variedade de doenças. A missão da Biocodex Microbiota Foundation (BMF) é aproveitar este interesse crescente e promover a pesquisa em microbiota e sua interação com várias patologias. A pesquisa é apoiada por meio de subsídios concedidos a projetos que investigam a implicação da microbiota na saúde humana. A BMF apoia a pesquisa básica e aplicada. Os projetos são selecionados anualmente por um comité de cientistas nacionais independentes.

i3S
O i3S é uma instituição transdisciplinar dedicada à investigação e inovação em Ciências da Saúde. Reúne cientistas de renome internacional com competências em investigação básica, translacional e clínica. Os investigadores do i3S trabalham interativamente para dar resposta a uma série de questões no âmbito de três programas integrativos: Cancro; Interação e Resposta do Hospedeiro; Neurobiologia e Doenças Neurológicas. Orientados por uma responsabilidade social e ética, o i3S tem cerca de 1500 colaboradores a desenvolver múltiplas abordagens que concorrem para um único objetivo: promover a saúde.