Como pode a arte ser um meio de saúde mental e crescimento interior? Como pode a arte reestruturar vidas?

 

Artigo da responsabilidade de Daniela Martins. Arte-terapeuta e psicoterapeuta do Projeto Círculos Arte-Terapia. Autora do livro “Arte-Terapia – Criatividade e Simbolismo”, Editora Espiral.

 

 

A arte-terapia é um método psicoterapêutico que tem o potencial de promover desde melhorias no bem-estar geral até transformações estruturais, gerando novas maneiras de estar na vida.

A arte-terapia incorpora a criação artística no tratamento de questões emocionais, onde podemos utilizar diferentes expressões artísticas, como as artes plásticas, a música, a dança ou a expressão dramática. Através destas várias formas expressivas, o paciente em arte-terapia comunica, explora e compreende melhor os seus sentimentos.

A grande aliada nesse processo é a criatividade. Este é o motor para gerar mais saúde e progresso no seu estado mental. É com o estímulo à criatividade que o indivíduo encontrará melhores soluções para os seus problemas. Na arte-terapia, a criatividade é curativa, transformadora e enriquecedora de uma vida que pode estar sem cor, sem sentido e sem significado.

ARTE PARA TODOS, NÃO PRECISA SER ARTISTA

Pensar num processo artístico pode causar estranheza a pessoas que se sentem sem habilidade para as artes. Mas em arte-terapia não é exigido qualquer experiência artística. A arte em arte-terapia é para todos, crianças, adultos e idosos, em diversas condições mentais e emocionais. A expressão criativa pode ser feita de várias maneiras, através de propostas onde cada um faz o que pode, como quer e como sabe. Não há julgamento nem avaliação. Há aceitação e integração de todas as formas de uma pessoa se expressar.

A arte-terapia, quando focada no não-verbal, é muito bem usufruída por crianças com uma linguagem limitada, por exemplo, ou por uma pessoa idosa que perdeu a capacidade de falar devido a um AVC ou demência, ou ainda, quando se trata de uma vítima de um trauma, que pode ter dificuldade em abordar a situação pela qual passou. Para adolescentes, que normalmente têm mais dificuldade em expressar e entender as suas emoções, torna-se mais fácil em arte-terapia, pois é quase a brincar que se toca em questões complicadas.

Já sabemos o quanto a maioria das crianças se sente à vontade com as artes e assim, na arte-terapia, poderão aprender a lidar com sentimentos que ainda não compreendem. Os adultos recuperam a criatividade perdida, reaprendem a ser espontâneos e livres. E os idosos, com demência ou não, têm a possibilidade de reacender a sua criatividade, vivacidade e esperança na vida, evitando o isolamento e os sintomas depressivos.

Na verdade, a lista de situações em que a arte-terapia pode ajudar é longa (ver caixa). A arte-terapia não só é integrativa como é inclusiva. Através das artes, do movimento corporal ou do jogo lúdico, podem-se transmitir sentimentos profundos, ajudando as palavras quando estas falham e é difícil expressar e definir o que se sente, quando é difícil encontrar soluções. A arte-terapia é para toda a gente e é a relação terapêutica que dará suporte para essa expressão emocional.

CRIATIVIDADE CURATIVA

A criatividade é imprescindível para uma vida saudável e equilibrada. É fundamental para o encontro de soluções e para uma boa integração do sujeito na realidade, de maneira construtiva. O exercício da criatividade possibilita uma visão diferenciada sobre si mesmo e favorece o encontro de pontos de vista alternativos para problemas que antes pareciam sem solução.

Criatividade curativa é a capacidade de mobilizar recursos internos para a transformação pessoal, de forma a explorar a criação artística como meio de renovação e saúde mental. O ativar da criatividade curativa proporciona a reparação de sentimentos difíceis de suportar, transformando velhos padrões em novas maneiras de estar, tornando assim a nossa presença na vida mais adaptada e significativa.

O acompanhamento do arte-terapeuta é fundamental neste processo. A arte-terapia tem teoria e prática própria e um profissional desta área não é um “artista”, nem um “psicólogo” ou “professor”, é um(a) arte-terapeuta, por isso deve ter uma formação específica realizada em entidade credível para tal, com teoria, supervisão, desenvolvimento pessoal e estágio.

Leia o artigo completo na edição de junho 2022 (nº 328)