Diariamente, pensamos em mil coisas quase sem darmos conta. E, embora possa parecer, a pensamento não é um processo aleatório: é sempre possível incrementar o grau de controlo sobre a nossa mente. Se se preocupa com aquilo que passa pela sua cabeça, encontrará neste artigo um importante guia prático para que os pensamentos joguem a seu favor.

Frequentemente, temos a sensação de que, mais do que sermos nós a pensar, é o nosso cérebro que pensa por nós. São “seus” os pensamentos que, por vezes, não somos capazes de controlar, que nos apanham de surpresa, nos baralham, nos deprimem e não nos deixam avançar.

No entanto, embora o cérebro nunca descanse, nem mesmo quando dormimos, e pareça funcionar segundo as suas própria regras, podemos fazer um esforço consciente para controlar a sua atividade. Com um pouco de prática, podemos conseguir que os pensamentos desordenados e negativos sejam substituídos por outros, fruto de reflexão e do sentido que queremos dar às nossas vidas.

Em seguida, explicamos como funciona o cérebro, como se geram os pensamentos e o que deve fazer para obter o pleno controlo desse extraordinário milagre quotidiano que é o ato de pensar.

Somos aquilo que pensamos

  • Pensar transforma-nos naquilo que somos – Não só porque se trata da característica principal do ser humano, mas porque é a atividade mental diária que determina a nossa personalidade e a forma de nos relacionarmos com o mundo. Até certo ponto, somos aquilo que pensamos.
  • Pensar não é uma atividade de rotina nem espontânea – Embora, por vezes, não nos demos conta, o pensamento exige sempre um esforço da nossa parte. A mesma operação mental que utilizamos para enfrentar um problema que exige um trabalho intelectual – reconhecê-lo, analisá-lo, avaliá-lo e resolvê-lo – pode e deve servir, também, para ajudarmos a reconduzir os pensamentos que nos incomodam ou que não controlamos. Uma ideia negativa que se transforma em obsessiva deve ser reconsiderada, reperspetivada e, se possível, desativada.
  • O pensamento tem dois níveis – Há um primeiro nível imediato e superficial, que é uma resposta a condicionantes externos. Precisamente, este nível tão espontâneo é aquele que pode escapar ao nosso controlo. Em contrapartida, existe um nível mais profundo, o refletivo, em que o nosso controlo sobre o processo mental pode ser quase absoluto. A conclusão é clara: o objetivo é tentar reconduzir os pensamentos imediatos que nos perturbam para esse nível refletivo, para assim os controlarmos mais facilmente.
  • O cérebro não é uma máquina – Embora, muitas vezes, se compare o cérebro a um computador, não é assim, nem funciona de forma autónoma nem infalível. Ainda não compreendemos todos os mecanismos que regulam a imaginação, a criatividade ou as emoções, mas sabemos que é possível potenciá-los e, sobretudo, aprender a utilizá-los em nosso próprio benefício.
  • Pode aprender-se a pensar – Essa é a conclusão a que queremos chegar. Pensar de forma superficial ou refletiva levará à tomada de decisões-chave que condicionarão as nossas vidas. Por isso, o importante é que estejamos conscientes da nossa atividade mental e sejamos capazes de a canalizar da melhor forma possível. Isto é, afinal, controlar a nossa mente.

Otimistas ou pessimistas?

Uma das qualidades pessoais que melhor nos definem é se tendemos a ver o copo meio cheio ou meio vazio. Isto é, se somos otimistas ou pessimistas. A que pode dever-se esta opção vital tão transcendente? Em primeiro lugar, a fatores biológicos e sociais, como, por exemplo, a relação que temos com os familiares e amigos, dado que estes deixam uma marca muito significativa na configuração do nosso pensamento.

Contudo, os pensamentos negativos nem sempre são um problema. Por vezes, podem corresponder a uma estratégia de prevenção do cérebro, um esforço adaptativo que nos prepara contra possíveis desgraças futuras – uma desilusão amorosa, a reprovação num exame, a morte de um ente querido, etc. Grave é quando esses pensamentos se tornam dominantes, pois implicam um dispêndio energético desnecessário: pelo mesmo “preço”, podemos aprender a ver as coisas de um modo positivo, algo que é muito mais estimulante e saudável.

Estratégias úteis

Especialistas no estudo do pensamento delinearam um conjunto de estratégias muito úteis, para aprender a pensar de forma positiva. No entanto, essas estratégias apenas servem em caso de níveis de negatividade considerados normais, pois se esta for fruto de uma perturbação psicológica, como a depressão ou a ansiedade, deve consultar-se o médico, para obter um tratamento específico.

Em primeiro lugar, vejamos alguns exemplos práticos de pensamento negativo, que podem ocorrer em situações quotidianas e causar-nos angústia, medo ou tristeza:

  • “O meu filho não me telefonou. Será que aconteceu alguma coisa?”.
  • “Tenho uma apresentação e não consigo falar em público”.
  • “A minha namorada está magoada com algo e eu não percebo o que é”.
  • “Estou tão feia que nem consigo olhar-me ao espelho”.

Todas estas situações têm sequências previsíveis, que condicionam o nosso comportamento: esperaremos o telefonema do filho, num estado de angústia extrema; bloquearemos no momento de falar; reagiremos de modo negativo perante a namorada, precipitando um possível conflito ou um agravamento das relações; não apreciamos uma festa por não nos sentimos bonitas…

Porém, esses pensamentos são perfeitamente reversíveis. O objetivo não é ignorar a realidade, mas sim aprender a vê-la de um ângulo mais favorável. Estes seriam possíveis pensamentos alternativos aos atrás expostos:

  • “O mais provável é que o meu filho esteja sem bateria no telemóvel e me telefone amanhã; certamente que está tudo bem”.
  • “Sim, sou capaz de falar em público; apenas necessito de preparar bem aquilo que vou dizer, para ganhar segurança e naturalidade”.
  • “É provável que a minha namorada tenham tido um mau dia; vou perguntar-lhe se está bem e se posso fazer alguma coisa por ela”.
  • “Com a roupa adequada e uma maquilhagem fantástica, vou fazer furor na festa”.

Leia o dossier completo na edição de setembro 2020 (nº 308)