A saúde mental dos adultos em Portugal enfrenta desafios crescentes que exercem um impacto profundo na qualidade de vida da população. As várias abordagens terapêuticas, no que à Psicologia Cínica diz respeito, nomeadamente as abordagens personalizadas, tornam-se a chave-mestra para decifrar os enigmas dos transtornos mentais.

Artigo da responsabilidade do Dr. Alexandre Bogalho. Psicólogo Clínico. Neuropsicólogo de um Centro de Medicina de Reabilitação de Adultos

 

Num cenário marcado por transformações sociais, económicas, políticas e culturais, as pressões e exigências do quotidiano geram instabilidade e insegurança, desencadeando preocupações significativas no âmbito da saúde mental. A complexidade das dinâmicas globais contribui para um cenário onde as doenças mentais se tornam frequentes.

ABORDAGEM HOLÍSTICA E COLABORATIVA

A elevada prevalência de dificuldades de saúde mental entre os adultos em Portugal reflete-se em distúrbios como a ansiedade, a depressão e o stress, que emergem como desafios prominentes. A dificuldade de acesso a respostas de saúde mental e o estigma associado a essas questões dificultam ainda mais o enfrentamento adequado destes problemas.

Este contexto cria uma urgência em desenvolver estratégias abrangentes que promovam a sensibilização, a prevenção e o tratamento eficaz, assegurando um suporte adequado a quem enfrenta desafios nesta área.

Além disso, a sociedade portuguesa está a lidar com o envelhecimento da população, o que acarreta desafios adicionais para a saúde mental. A solidão e o isolamento social tornam-se questões cruciais, impactando negativamente o bem-estar emocional dos adultos mais velhos. A promoção de iniciativas que fomentem a integração social, a educação sobre saúde mental e o acesso facilitado aos serviços de apoio tornam-se imperativos para enfrentar esses desafios.

Assim, compreender e abordar a saúde mental dos adultos em Portugal exige uma abordagem holística e colaborativa, envolvendo o Governo, profissionais de saúde, instituições educacionais e a sociedade em geral. Ao priorizar a saúde mental, é possível construir uma sociedade mais resiliente, promovendo o bem-estar emocional e melhorando significativamente a qualidade de vida e a saúde geral dos portugueses.

NOVAS REALIDADES

Nos últimos anos, aos desafios mentais já existentes, foram acrescentados outros desafios emergentes na saúde mental. A pandemia da covid-19 é um exemplo, ao ter imposto mudanças abruptas na vida quotidiana, com a adoção de protocolos que limitaram a liberdade, afetando assim a saúde mental. Com uma complexidade dos impactos psicológicos da covid-19, como o aumento de ansiedade e depressão devido ao isolamento social e às incertezas associadas à doença.

O stress laboral e insegurança com novos modelos e exigências no emprego motivou vários peritos a investigar a relação entre stress laboral e saúde mental. O ambiente competitivo e a instabilidade no emprego são fatores exacerbados pela globalização, contribuindo para elevados níveis de stress, ansiedade e depressão.

A solidão e o isolamento social tornaram-se uma questão premente. As relações digitais, embora conectem, criam uma ideia irreal da vida dos nossos “amigos virtuais”, não substituindo o contacto humano em nenhuma dimensão. De destacar que o isolamento social pode levar a perturbações mentais, sublinhando a necessidade de estratégias terapêuticas e apoio psicológico.

DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DAS TERAPIAS

O estigma em torno da saúde mental, em Portugal, ainda se faz notar. Assim, as estratégias de intervenção devem incluir campanhas de sensibilização para promover a compreensão e a aceitação.

Por outro lado, existe uma desarmonia no acesso aos serviços de saúde mental. Para garantir uma distribuição equitativa, são necessárias políticas que abordem as lacunas regionais e promovam a descentralização de recursos, a contratação de psicólogos clínicos para os Sistemas de Saúde (públicos e privados) e a integração mais corrente desta resposta em todos os seguros de saúde.

O panorama da saúde mental em Portugal é multifacetado, exigindo abordagens terapêuticas holísticas e adaptáveis a cada caso. No entanto, é imperativo um esforço conjunto para reduzir o estigma, aumentar a acessibilidade aos recursos terapêuticos e promover a compreensão da importância da saúde mental na sociedade portuguesa.

Numa sociedade competitiva em constante mudança, os bloqueios à saúde mental tornam-se num intrincado jogo de sombras e reflexos. À luz das investigações de psicólogos nacionais, propõe-se um olhar multifacetado, sobre as nuances da saúde mental e as abordagens que moldam o terreno psicológico. Hoje, desvendamos uma narrativa mais compassiva, onde se desconstroem preconceitos e se abraça uma visão holística da saúde mental preventiva da saúde geral.

ABORDAGENS TERAPÊUTICAS

Existem várias abordagens terapêuticas no que à Psicologia Cínica diz respeito, sendo que as abordagens personalizadas tornam-se a chave-mestra para decifrar os enigmas dos transtornos mentais, ditando que abordagem usar, não esquecendo que os mecanismos da memória têm um papel fundamental na nossa narrativa emocional. Neste palco da mente, as memórias, ora explícitas, ora implícitas, desenham os cenários das nossas emoções, moldando o panorama das nossas vidas.

Leia o artigo completo na edição de Janeiro 2024 (nº 345)